Muitas são as Firminas dos Reis

Maria Firmina dos Reis (1822-1917) foi uma escritora, poeta, professora, musicista e educadora maranhense. Mulher negra, nordestina, autodidata, que em 1859 publicou o romance “Úrsula” (assinado simplesmente como “Uma Maranhense”) considerado pela crítica especializada como primeiro romance de autoria feminina e de cunho abolicionista publicado no Brasil. Tratando dessa mesma temática, em 1880, Castro Alves (1847-1871) publicará “O Navio Negreiro”, ou seja, 21 anos depois.

Além disso, é autora da novela “Gupeva” (1861), obra de caráter indianista. É preciso salientar que somente em 1865, José de Alencar (1829-1877), publicará “Iracema”. Como o cânone literário é formado, essencialmente, por homens brancos e de famílias abastadas, o nome de Maria Firmina dos Reis não é lembrado. Escreveu, também, o livro de poesias “Cantos à beira-mar” (1871) dedicada à sua maior incentivadora: “Minha mãe! – as minhas poesias são tuas”.

Participou assiduamente dos jornais maranhenses de sua época com charadas, crônicas, artigos etc. Em suas obras, pode-se observar características essencialmente românticas: como a subjetividade, o amor e mulher idealizados e personagens heroicos, porém antiescravistas.

O que se destaca na escrita firmiana é o fato dos negros serem personagens conscientes de sua história e terem voz ativa, como é o caso do trio: Suzana, Antero e Túlio (“Úrsula”). Em 1962, o bibliófilo Horácio de Almeida (1896-1983) encontrou em um sebo da cidade do Rio de Janeiro a edição em fac-símile de “Úrsula”, que foi doada ao governo maranhense. A obra encontra-se em sua sétima edição e, vagarosamente, Maria Firmina dos Reis está sendo destaque no cenário da Literatura Brasileira. Ler as obras firmianas é entrar em contato com uma sociedade autoritária e patriarcal em que minorias como o negro e a mulher deveriam ficar silenciados.

É importante ressaltar que as escritoras nordestinas não são (tão) reconhecidas pelo público leitor e/ou trabalhadas pelos professores nas escolas e na própria Universidade. Continuemos a ler os milhares de Firminas (mulheres negras, nordestinas ou não fora do cânone literário) para que a sua voz possa ser reverberada e multiplicada por esse país tão múltiplo de leitores e trabalhadores da palavra.

Luciana Bessa Silva

Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler

Naira Leite Almino


Técnica em Informática. Graduanda em Licenciatura em Música pela Universidade Federal do Cariri. Bolsista do projeto Blog Literário: Nordestinados a Ler.

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