Falar em Júlia Lopes de Almeida é falar de uma mulher à frente de seu tempo, que escreveu romances, crônicas, contos, ensaios e peças teatrais em um período da História em que nos foi negado papel e caneta, em que nos foi reservado o espaço privado, em que fomos consideradas sujeitos indolentes e subalternos.
Nascida em 24 de setembro de 1862 no Rio de Janeiro, Júlia Lopes de Almeida foi uma abolicionista convicta, defensora da república, do divórcio, da educação formal de mulheres e dos direitos civis. Além disso, foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras (ABL), embora tenha sido impedida de ocupar uma cadeira nessa instituição.
Essa lamentável mancha na ABL não é a única. Em 1930, D. Amélia Freitas Beviláqua, esposa de Clóvis Beviláqua, se inscreveu para a ABL, para a vaga de Alfredo Pujol, e o presidente Aloysio da Costa encaminhou a matéria ao plenário, e, após amplo debate, negou sua inscrição, porque estava escrito no estatuto da agremiação que somente “brasileiros” poderiam compô-la. No entendimento do grupo significou pessoas do “sexo masculino”. Em consequência, Clóvis se afastou em definitivo da Academia, apesar de vários apelos feitos pelos acadêmicos. Esse veto à participação de mulheres terminou somente no ano de 1977, com a eleição da cearense Rachel de Queiroz para ocupar a cadeira nº 05.
Apesar dessa pedra no meio do caminho, para lembrar o poeta gauche, Carlos Drummond de Andrade, Júlia Lopes de Almeida não se deixou abater, pois para frente é que se anda. Publicou mais de vinte e cinco obras e é considerada uma das pioneiras da literatura infantil brasileira com seu livro Contos infantis (1886) – reunião de 33 textos em versos e 27 em prosa, em parceria com sua irmã Adelina Lopes Vieira.
Júlia Lopes de Almeida é uma mulher que nos inspira pela sua trajetória de vida, de lutas e por sua escrita marcada por uma forte crítica social. Talvez, por isso, no ano de 1916, um grupo de intelectuais cuiabanas (Maria Dimpina Lobo Duarte, Maria da Glória Figueiredo, Bernardina Maria Elvira Rich) criou o Grêmio Júlia Lopes, cuja missão era a divulgação de autoria feminina.
Levar ideias femininas e feministas foi a tônica de Júlia Lopes de Almeida, que escreveu obras como: Memórias de Marta (1899), A Falência (1901) e A Intrusa (1908). Escreveu para periódicos como: A Mensageira, Única, O Quinze de Novembro, O País, A Gazeta de Notícias, A Tribuna Liberal e Brasil-Portugal etc. Também realizou palestras sobre o lugar da mulher na sociedade brasileira e outras questões nacionais.
Uma das mulheres-escritoras mais importantes da virada do século XIX para o século XX, Júlia Lopes de Almeida, acreditava que “uma mulher não poderia ser uma mãe perfeita, se fosse ignorante ou fútil”. Por compartilharmos das ideias dessa autora e compreender que a luta feminina por equidade perpassa pela questão da visibilidade, conclamamos a todos e todas lerem Júlia Lopes de Almeida.
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler