Anilda Figueiredo “se tem mulher no cordel, você tem que respeitar”

Adoro ser cordelista

Digo sem pedir segredo

Gosto de escrever versos

Pois traço rimas sem medo

Valorizo o que eu falo

E deixo aqui o abraço

De Anilda Figueiredo.

Natural do Crato, Anilda Figueiredo nasceu no dia 24 de novembro de 1953. Desde cedo se interessou pela arte de versejar. Ainda menina, costumava ouvir sua avó contar-lhe as histórias rimadas do cordel. “Desde criança eu vi minha avó contar histórias/ em livrinhos de cordel que ficaram na memória”. Não demorou muito, e já estava produzindo obras dessa literatura.

Graduada em Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA), formou-se em 2001. Possui especialização em administração hospitalar (2004) e em Língua Portuguesa e Arte-Educação (2007). Foi professora de Literatura Brasileira e Literatura Popular na URCA. Atualmente é funcionária aposentada do Banco do Brasil. Em um de seus versos, diz:

Sou Anilda Figueiredo

O cordel me leva além

Marco o passo da ciranda

Que o cordel no meio tem

Cordel em sala de aula

Não demora, logo vem. 

É evidente, em seus versos, o orgulho que Anilda Figueiredo sente em ser cordelista, arte essa, que considera a alma nordestina. E, bem como Patativa do Assaré, “exalta e canta essa/ terra boa e santa/ com sua poesia”, afinal, o Nordeste é poesia.

Em 2001, junto do poeta Dr. Napoleão Neves, candidatou-se a uma vaga na Academia dos Cordelistas do Crato, entidade criada em 1991 com intuito de preservar a “cultura cordelística” caririense, que estava sob ameaça de desaparecimento. Dessa concorrência, saiu vencedora e, a partir do dia 21 de abril de 2001, tornou-se membro da ACC, ocupando a cadeira nº 07 que pertenceu ao poeta (e fundador da ACC) Elói Teles de Morais, sendo a terceira mulher a fazer parte do grupo de cordelistas, ao lado de Bastinha Job e Josenir Lacerda. 

Atualmente, Anilda Figueiredo atua como presidente da Academia dos Cordelistas do Crato, um marco de grande importância na luta feminina em busca de espaço na Literatura de Cordel, uma caminhada que começou por volta de 1938, quando Maria Alves Batista Pimentel, sob o pseudônimo de “Altino Alagoano” (nome do seu marido), começou a publicar seus primeiros folhetos de cordéis, marcando a estreia feminina nessa área da literatura. Desde setembro de 2014, Anilda é sócia efetiva da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), e ocupa a cadeira nº 03, que pertencia ao poeta piauiense Firmino Teixeira do Amaral.

Além de poetisa e cordelista, Anilda Figueiredo é folclorista e contadora de história. Mulher sábia, quando recita seus versos, que faz questão de decorá-los, encanta os seus ouvintes. Grande representante da poesia produzida por mulheres, em um mote, criado em conjunto com as também cordelistas Dalinha Catunda, Bastinha Job e outras poetisas da região, Anilda diz: “se tem mulher no cordel, você tem que respeitar”. De fato, o que falta às mulheres, seja no cordel, seja no Palácio do Planalto, seja em sua casa, é respeito aos seus direitos!

Em 2020, foi criado o Movimento das Mulheres Cordelistas Contra o Machismo, um grupo formado por mais de 70 coletivos de todo o Brasil, unindo cerca de 1500 mulheres na campanha #cordelsemmachismo, dando visibilidade ao espaço feminino na literatura de folhetos, tanto na produção (escrita), quanto na representação, uma vez que as temáticas que abordam personagens femininas são comumente estereotipadas, em que a mulher, ora é o ser mais perfeito do mundo, pronta para servir ao homem; ora é o ser mais perverso, que está lá para corrompê-lo. Mas, seja mulher ou homem, como bem disse Anilda Figueiredo em seu mote:  “os dois se dana a rimar/ cada um no seu papel”, e se tem mulher no cordel, nosso dever é respeitar, e nossa missão apreciar.

FONTES:

BARBOSA, Diego. Mulheres se mobilizam contra o machismo na literatura de cordel. Diário do Nordeste, 2020. Disponível: <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/mulheres-se-mobilizam-contra-o-machismo-na-literatura-de-cordel-1.2967252>. Acesso em: 24 de set. 2021.
CATUNDA, Dalinha: Cordel de Saia. Disponível em: <https://cordeldesaia.blogspot.com/search?q=anilda+figueiredo>. Acesso em: 21 de set. 2021.

Shirley Pinheiro
Shirley Pinheiro

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

One thought on “Anilda Figueiredo “se tem mulher no cordel, você tem que respeitar”

  1. Fico bastante contente em conhecer mais uma mulher (embora virtualmente) que tem grande interesse pelo Cordel. Também sou cordelista, mas a apenas uns treze anos. Já tenho mais de 150 cordéis, em vários estilos. Resido em Teresina-PI. Também fui do Banco do Brasil, por vinte e dois anos (os três últimos como advogado do BB, na AJURI-PI). Mas já me aposentei como advogado da União.

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