Luciana Bessa
Lêdo Ivo, um nordestino apaixonado por sua terra natal, carregava um sentimento visceral: o peso de sua ancestralidade. Descendente dos índios caetés, o universo amplo de Maceió despertou no autor de “As Imaginações” – obra de estreia (1944) – o poder da linguagem, daí sua necessidade de “falar pelos que não falam, cantar pelos que não cantam”.
Único alagoano imortal, ocupante da cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras (ABL), um verdadeiro camaleão, que mudava de pele ou a revestia de outras cores. Por isso, enveredou por gêneros diversos: poesia, conto, crônica, romance e ensaio. Não bastasse, atuou como jornalista, crítico literário e tradutor (de Jane Austen a Guy de Maupassant passando por Fiódor Dostoiévski).
Admirador e leitor de outro alagoano, Graciliano Ramos, criador de uma das obras mais relevantes da literatura brasileira – “Vidas Secas” (1938), Lêdo Ivo imaginou que não passava “de um pássaro canoro” (Poema “A um crítico”), que desde a infância gostava de ler.
Quando perguntado o que lia, a resposta vinha fácil: “tudo” (…) “pois minha curiosidade é muito grande”, assim como é sua obra: 25 livros de poesia; 5 romances, contos e de traduções, 15 obras de ensaio, 16 antologias e, claro, uma autobiografia: “Confissões de um poeta”. Dele é possível revelar cinco fatos:
1. Nasceu no dia 18 de fevereiro de 1924, em Maceió, Alagoas, cidade que amou e exaltou em suas obras, mas aos 18 anos descobriu que o seu destino era ser escritor “lá no Rio de Janeiro”. Morreu aos 88 anos (23 de dezembro de 2012) sem nunca ter voltado a pisar em solo alagoano;
2. No ano de 2006, doou toda a sua biblioteca para o Instituto Moreira Salles;
3. A partida de seu grande amor e sua musa, Maria Lêda, o levou a compor o poema longo “Réquiem”, ganhador do “Prêmio Casa de Las Américas”, em 2009;
4. É o único escritor brasileiro (e nordestino) a receber, na Espanha, na cidade de Léon, o Prêmio Leteo, em 2009;
5. No ano de 1941, participou do I Congresso de Poesia do Recife.
O sinuoso caminho da vida e as suas transformações eram os assuntos prediletos desse escritor do Pós-Guerra, que não se encaixou na Geração de 45 do Modernismo brasileiro, porque a dimensão de sua obra não cabia em si. Lêdo Ivo nunca se deixou revelar, “E porque não me decifras / eu te devoro” (Poema “A um crítico”).
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler