“O meu ofício é de palavras
que só estremecem ao rumor
do amor”
(Lélia Frota — AD USUM)
Nascida em 11 de julho de 1938, no Rio de Janeiro, Lélia Coelho Frota foi muito importante no cenário cultural brasileiro. Autora de diversos livros sobre a arte e a cultura brasileira, foi musicóloga, crítica de arte, antropóloga, tradutora e poeta.
Dedicada especialmente à cultura popular, Lélia Frota elaborou o primeiro e único Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro — Século XX, onde reuniu informações acerca de 150 criadores de arte popular — “Desde que publiquei Mitopoética de Nove Artistas Brasileiros (1975), que enfocava pela primeira vez a vida e o trabalho de indivíduos criadores procedentes de camadas pobres, tive a preocupação permanente.de aproximar estética e antropologia, e de contextuar social e historicamente uma produção que até então era apresentada como anônima, anedótica, estática e, acima de tudo, sem conceito”.
Foi com ousadia que Lélia Frota se lançou no ramo da poesia. Aos 17 anos, reuniu um conjunto de poesias e as levou até o Ministério da Educação e Cultura do Rio Janeiro, especificamente ao gabinete de Carlos Drummond de Andrade, e apresentou-lhe os poemas que viriam a compor sua obra de estreia, ilustrada pelo pintor Milton Dacosta, cujas obras encantaram a jovem, que, com a mesma ousadia direcionada ao poeta veterano, pediu ao artista que ilustrasse seu livro.
A amizade com Drummond aliada aos próprios talentos (poético e comunicativo) elevou o seu círculo literário. Dentre os amigos intelectuais estavam Guimarães Rosa e Cecília Meireles, além de seus admiradores — Ferreira Gullar, Henriqueta Lisboa e Otto Lara Rezende.
“Acordar é fechar as pálpebras.
Nossos olhos só escrevem
por cima, muito por cima.
E quando abrimos as janelas
É só o vento que está ali.
Existe uma dor
solta no mundo.
E eu quero deixar meu emprego, meus cabelos
minha família
para ir atrás dela
bicho com fome.”
(Lélia Frota — UMA DOR)
Lélia Coelho Frota teve atuação marcante na área das artes plásticas. A autora de Alados Ilídios (1958), Caprichoso Desacerto (1965) e Ataíde (1982), foi diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) entre 1982 e 1984, quando este ainda era Instituto Nacional de Folclore da Funarte. Sua obra poética conta com onze obras, sendo a última, Poesia Reunida (2012), póstuma, uma homenagem da editora Bem-Te-Vi Produções Literárias, que foi fundada com a ajuda de Lélia.
Vencedora do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1979 e do Prêmio Olavo Bilac, Lélia Coelho Frota foi uma mulher de coragem, sua poesia, profunda e encantadora, faz jus aos vários elogios que recebeu, bem como o de Henriqueta Lisboa — “A poesia dela é uma graça do céu e um fardo para os corações da Terra… Quando a habita a alegria, ela se deixa levar pelos ritmos rápidos em ‘modinhas ecoantes’ e adjetivos transbordantes, cantando, quase direi, dançando seus versos. Quando o sofrimento a visita ou apenas a dor de viver, de suportar o peso da mesma poesia, como árvore pendente de frutos, ela caminha passo a passo, recolhendo imagens de cascalho e ‘outro mordente’”.
E como celebração de 84 anos de seu nascimento, fica então o convite para nos aprofundarmos na obra de Lélia Frota.
Referências:
FROTA, Lélia Coelho. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro – Século XX, 2005.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.