“Surpresa
Pra sentir, pra tocar
E mesmo que eu não tenha nem o que falar
Já me basta a alegria de cantar
Dividir pra rimar
Poesia, emoção, numa só canção
Tô na praia, a melodia vem e entra
Como uma onda em movimento de amor
Sem perder o compasso e o tempo
Seja com quem for
Só ouço o som de um instrumento
E voa pra qualquer lugar
Pra dançar, distrair, deschavar”
Dizem por aí, que filho de peixe, peixinho é. Ainda que me atrevesse, eu seria incapaz de calcular quantos filhos herdaram dos pais, o talento que os distinguem numa sociedade que cultua padrões. Um grande exemplo é a cantora Mart’nália, que herdou do pai, Martinho da Vila, o talento de musicalizar as sensações e sentimentos. Em outras palavras, filha de sambista, sambista é.
Nascida em 07 de setembro de 1965, na capital carioca, Mart’nália é uma artista completa: canta, toca, compõe e atua. O samba a acompanha desde que se entende por gente. Quando criança, acompanhava o pai às rodas de Vila Isabel, onde aprendeu a sambar, cantar e tocar violão.
Aos 16 anos passou a cantar profissionalmente ao lado do pai e dos irmãos. Anos mais tarde lança seu primeiro CD, Minha Cara, com canções como Conto de Areia, O Samba É Minha Escola e Pra que vou recordar o que chorei — “Não quero mais saber de ti/ Vou me recuperar/ Quero sorrir, quero sorrir/ Esquecendo a quem amei/ Pra que vou recordar o que chorei”.
Mart’nália é símbolo de alegria e espontaneidade. Suas músicas tratam dos mais variados temas, paixões, poesias, memórias e mulheres. Sobre o amor, muito cantou. Amores roubados ou amores de Recife, todos viraram músicas. E, como todo artista que se preze, cantou sobre as injustiças sociais. Em Luxuosos Transatlânticos, a sambista faz críticas à escravidão, ironizando o tráfico de africanos às terras brasileiras — “Em luxuosos transatlânticos/ Os negros vinham da África para o Brasil/ Gozando de mordomias faraônicas/ Chegavam aqui com ar fagueiro e juvenil/ E mal desembarcavam lá no porto/ Com todo conforto/ Em luxuosas senzalas iam se hospedar/ Tratados a pão-de-ló, comendo do bom e do mell/ Levavam a vida a cantar”.
Mart’nália é dona de uma voz inconfundível e coleciona parcerias musicais. Maria Bethânia, Gal Costa, Zélia Duncan, Caetano Veloso e Gilberto Gil são só alguns dos nomes com quem dividiu o palco. Na televisão, a cantora carioca estreou em 2013, na série global Pé Na Cova, criada, escrita e protagonizada por Miguel Falabella. E, em setembro de 2022, Mart’nália estreia no Prime Video, plataforma de stream da Amazon, na segunda temporada de Manhãs de Setembro, ao lado de Liniker, Seu Jorge, Karine Teles e muitos outros nomes da música e da TV.
Seja na música ou na atuação, Mart’nália se destaca por seu talento e por sua irreverência, encantando e cantando por onde passa.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.