Acho que era amarelo

Chuveiro ligado. Já tinha tomado banho.  Estava no meu mundo reprisando o passado e o presente. A água escorria, não tinha pressa de sair dali, estava lavando um pouco os pensamentos. Meu corpo tinha acabado de ser possuído com força e delicadeza, ainda tinha pequenos tremores dentro de mim, ainda tremia de prazer e de pecado.

Respirar. Tocava meus lábios como se quisesse ajustar a sintonia dos canais, inútil. Naquela noite, dormiria sozinha, o que não era novidade e nem desprazer, apenas uma constatação de longa data.

Luzes acessas. Chuveiro desligado. Pronta para dormir. Antes tentaria rabiscar a feição da noite e as cenas particulares, alguns suspiros e algumas pressões nas pernas cruzadas. O sono chegava, a tentativa não teve muito sucesso, mas tentei.

Um corpo com água. Deixo a música tocar, baixinho para não atrapalhar os sonhos. É preciso não ter pressa, as luzes estão apagadas e nunca se anda seguro no escuro. 

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *