Sala de aula sempre foi um ambiente desafiador, um ambiente de socialização de muitas pessoas diferentes, onde o professor deve ali exercer vários papéis: amigo, pai, mãe, irmão, psicólogo, etc. Mas, e, quando se estar em seis salas de aula com trinta e cinco alunos diferentes cada uma delas?
Essa pergunta, para quem nunca esteve em sala de aula, assusta muito, né? Com certeza! Porque todas as realidades são difíceis, principalmente na educação. Na universidade a gente idealiza a escola como sendo uma instituição que possivelmente estará aberta a mudanças e sempre estará disponível para ouvir o professor, mas, na maioria das vezes, não é assim. Em muitas escolas, o professor ou é controlado para prestar seu trabalho seguindo ordens e sendo fiscalizado, ou é exageradamente abandonado, ao ponto de em muitas ocasiões não poder contar com a instituição nem para fazer uma atividade diferente.
No meu caso, como professora, tive muita autonomia em sala de aula, ao ponto de ter dificuldades até no planejamento de minhas aulas. Eu precisava sempre estar mudando o planejamento, tentando adequar aos diversos alunos, isso até que foi bom, porque a aula ficou mais dinâmica, mas foi muito difícil. E quanto aos limites dos alunos?
No início tentei ser amiga deles, pedindo silêncio com educação, sem alterar a voz ou fazer repreensões, porém, quando percebi que eles não estavam me respeitando, precisei tomar providências mais rígidas, solicitando que o aluno (a) fosse para a coordenação. Isso gerou um pouco de tumulto entre eles, mas, logo os alunos entenderam o motivo dessa atitude drástica, outros, não. E é aqui que está o problema.
Há uma minoria que ainda não amadureceu para entender a importância de estudar, e, muitas vezes, de não valorizar os estudos, porque dentro da própria casa, os pais não tiveram a oportunidade de frequentar a escola.
Nessa parte, eu particularmente, tive mais dificuldade, precisei escolher a dedo os alunos que iriam sair de sala, para ver se poderia continuar a aula. E deu certo? Mais ou menos. Pois é, não foi cem por cento, mas melhorou um pouco.
Diante dessa realidade, percebi que não queria trabalhar em sala de aula, já que essa realidade, para mim, foi muito desgastante, então, pensei: Não, não quero trabalhar com isso, não quero ter que lidar com isso no meu dia a dia! Eu simplesmente não me via desempenhando essa função.
Infelizmente não me identifiquei como profissional em sala de aula, ao observar como estavam indo minhas ideias e ações, como minha criatividade não aflorava durante o planejamento, concluí que não me sentia bem dentro da sala de aula. Automaticamente, eu estava atuando como uma professora extremamente tradicional, tornando a aula chata e cansativa e eram poucas as aulas que eu conseguia dinamizar mais o ensino.
Na universidade, eu ouvia muito que a gente deve revolucionar o ensino, mas na hora de praticar é preciso ter apoio da escola e da família, o desejo de mudar, muita criatividade e paciência para lidar com toda uma turma de alunos cheios de energias e vontade de conversar.
Pelo fato de os professores (as) não serem valorizados, como profissionais e como pessoas, a tendência futura é que os licenciados não queiram exercer a carreira docente. Até porque nos estágios a gente sente o desânimo com a baixa remuneração, o cansaço de trabalhar tanto, não ter retorno financeiro e muito menos de aprendizado de parte dos alunos. E aqui chego no ponto: valorizar o professor é melhorar seus salários, melhorar as escolas, oferecer ao professor mais qualidade de vida, melhores condições de trabalho, apoio da gestão da escola, melhorar o período de férias, porque uma pessoa descansada produz mais e melhor, e com satisfação.
Voltando a frase clichê, mas atual: “O professor forma todas as outras profissões” é muita coisa, vocês não acham? Então está passando da hora de valorizar os profissionais da educação como seres humanos que precisam estar felizes e satisfeitos com seu trabalho para que compartilhem o conhecimento de forma que os alunos se sintam atraídos pelos estudos. Bons profissionais, bons resultados!
Sobre a autora:
Letícia Isabelle Alexandre Filgueira
Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará/ Faculdade de Educação Ciências e Letras – UECE/ FECLI