Água nunca é de sempre

Sementes de girassol, amendoins, passas, alguns goles de água.  Vento frio. Porta entreaberta: vou fotografando a rua: a mulher que anda em círculos. O homem que caminha com a escada nas costas. Os pombos que disputam a ração dos gatos. O botão que esconde a cor da rosa. O carro embrulhado de lençóis no meio da rua, deve ser para proteger a pintura. Os pássaros, mas não consigo fotografá-los, só escuto os seus cantos. Ainda continuo com a mesma calcinha de ontem, os cabelos lembram Einstein, blusa de propaganda, ainda nem tomei café. Dei alguns pulos, suei um pouco.

Ainda não sei o que fazer. Escrevo. Escuto as conversas acaloradas sobre futebol e faço careta, enquanto, penso no riso da traficante, ontem à noite.

Estico os braços, digo ai, coço os seios. Preciso ir aos correios. Hoje não tem cartas de amor, mas vou encaminhar uns trens para uma amiga.   

Vou tomar banho, trocar a calcinha, tomar café. Talvez, no meio do caminho, mude a direção, ligue o rádio ou vá cuidar das plantas, mas vai estar tudo bem, assim espero, nem tudo segue uma regra. Os parafusos estão soltos ou bem ajustados, somos desiguais e não adianta aguardar o mesmo beijo, a mesma carta de amor e querer se banhar na mesma água de sempre, tudo vai ser diferente.      

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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