Helena Miranda de Figueiredo, ou simplesmente Lenita, é uma dessas mulheres, cuja infância foi rodeada de tintas, pincéis e telas, além de ter contato com artistas do Grupo Santa Helena, formado por imigrantes ou filhos de imigrantes, de origem humilde, que se opuseram ao intelectualismo modernista e a pintura acadêmica, tal como era ensinada nas escolas de belas-artes.
Se é verdade o dito popular – “Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és” – Lenita, que em contato com as Artes, hoje, aos 96 anos de idade, tornou-se escritora musicista, pintora, professora de História da Arte (aposentada), incentivadora cultural e jornalista.
Nascida em 13 de setembro de 1927, ela descobriu, nas Artes, sua forma de contribuir para uma sociedade leitora, sobretudo, em que as mulheres tenham a visibilidade que lhes é de direito.
Como colunista da Folha da Tarde, por quase vinte anos, foi responsável por divulgar artistas, incentivar a leitura de jovens por meio de reportagens, realizar entrevistas e promover concursos e exposições nacionais e internacionais.
Ainda teve tempo e disposição para criar e editar a Folha Feminina e a Folhinha (com a ajuda de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica), suplementos da Folha de São Paulo, durante dez anos, de 1963 a 1973.
Na pintura, sob a orientação do artista plástico, Ottone Zorlini, realizou sua primeira exposição individual, no ano de 1981, na Galeria República das Artes, expondo 64 trabalhos em guache, óleo e bico de pena. No ano seguinte, expôs Galeria Portal.
Na literatura sua estreia aconteceu no ano de 1961, com Deus Aposentado, um romance que traz à tona as relações humanas, as relações familiares e amorosas sem quais não existimos. Dez anos depois, em 1971, foi agraciada com o 13º Prêmio Jabuti com a obra O Sexo Começa às Sete. Também é de sua autoria História da Arte para Crianças (1982), um panorama que faz um retrato da Arte desde a Idade da Pedra até a atualidade.
Sua atuação como jornalista lhe permitiu viajar pelo mundo, respirar novos ares, aprender sobre diferentes culturas, além de entrevistar personalidades como: Martin Luther King, Louis Armstrong, Ella Fitsgerald, etc. Para Lenita, o jornalismo foi sua forma de lutar contra a repressão.
Ela conta que “Na noite que soube do AI-5”, chorou. É preciso lembrar que o Ato Institucional nº5, decretado em 13 de dezembro de 1968, “o ano que não acabou”, durante o governo do general Costa e Silva, representou um dos períodos mais sombrios e repressores que o Brasil já enfrentou.
Essa ferramenta de intimidação, punição e censura transformou Lenita em uma de suas vítimas. No dia 20 de dezembro do ano de 1969, dez homens invadiram a casa dessa mulher, que fez da palavra seu escudo contra a ignorância. Ela foi torturada na cela 3 do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e foi obrigada a engolir a página de uma edição da Folhinha, cuja capa era a comemoração a Tiradentes, com a chamada – “Liberdade, liberdade, abre suas asas sobre nós”.
As páginas que exaltavam a liberdade misturado ao sangue de Lenita tornou-se ainda mais visceral proporcionando a ela mais força e vitalidade para continuar lutando por uma sociedade essencialmente democrática.
Membro da Academia Paulista de Jornalismo (APJ), Helena Miranda de Figueiredo, ou simplesmente Lenita, ou Tia Lenita, é uma dessas pessoas que se vestem da palavra para nos mostrar que é possível resistir às mazelas de uma sociedade que parece insistir pelo silenciamento das mulheres.
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler