A estrada arrasta lembranças. O Sol castiga a pele e desorienta a paciência. O amor não ficou em casa, veio no bolso da cabeça. Trago na calça algumas moedas para o café quente.
O bêbado estende a mão e a caatinga tentando esquecer o amanhã. No banco mastiga a língua e olha serenamente para tarde de poucos risos. Recebe moedas jurando comprar açúcar. Tomo café, enquanto observo as chegadas e as saídas. O cansaço decora os rostos, as malas parecem pesar, nunca é só uma mala.
Três dedos de cachaça, não tinha açúcar, o bêbado faz careta. Olha para os lados, mas não encontra caminhos.
A senhora do café exibe seu sorriso com dentes postiços: são os únicos que ela tem. Peço mais um café. O bêbado recebe mais algumas moedas e sai do banco com destino desorientado.
O bêbado se aproxima e diz: “a qualquer tempo a gente está aqui”. Sinto-me embriagado e já não sei que horas o ônibus chega.
Talvez o ônibus não chegue.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.