Tardes tremidas

Alexandre Lucas

Cabia na boca os versos tremidos da tarde.  Após alguns goles de água, quando a lua dava sinais, era hora da partida. A noite ficava para as lembranças,  só a poesia do sol era nossa. 

Tapeava teus lábios como quem escreve nas nuvens. O sol germinava de dentro de nós e a tarde seguia em incêndio. Os incêndios são efêmeros como as estações, o inverno não é perene. 

Na ponta da língua escrevia bilhetes de fogo, até que um dia fiquei a tarde  inteira despido,  olhando para o relógio e o sol não apareceu. Guardei dentro do baú uma carta de intensões: lá estava escrito sobre o desejo da suspensão de todas despedidas. 

As despedidas são inevitáveis, assim como água molha e o tesão. São três horas e tudo pode acontecer, inclusive fazer tremer os versos na boca. 

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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