Na borda da plataforma, sentia a imensidão do vazio debaixo dos meus dedos dos pés, enquanto pisava na aridez do cimento com meus calcanhares. Era o momento da decisão entre o nada e a firmeza do concreto. Mirava o ponto onde se fundem céu e mar. Respirava fundo. Retirava o pé direito da base. Prendia a respiração. Pisava no desconhecido. Durante a queda, apenas a certeza do vazio, até o momento em que mergulhava na água, quando você não sabe se é ela que te fura ou o contrário.
Esse elemento essencial da vida pode ser tranquilo ou perturbador, depende da sua resistência. Do alto parecia um vidro blindado que não se romperia com o peso do meu corpo, mas, quando atingido, abria-se para me sugar e se entranhar em todos os lugares.
Enquanto afundava com meu peso, sentia o abraço acalentador, como se estivéssemos em um reencontro. Ali, percebia a necessidade de me adaptar ao meio que me recebia. Afinal, não estava em casa, mas em visita àquela força da natureza que se chamava MAR.
Esses dias, reflito sobre a resistência ao que é estranho ao meu estado de conforto. Me transporto para a plataforma em que estou de pé olhando para o sol que se reflete longe na água e me encandeia, enquanto levanto o pé para dar um passo a frente, mas ainda não decidi se devo ir ou lançar meu corpo para trás.
Me inquieto.
Lembro da primeira vez em que reuni coragem para me espalhar na incerteza das águas. Não tinha a menor ideia de como seria recebida, mas fui surpreendida e voltei outras inúmeras vezes para sentir o seu afago, mesmo que eu roubasse sua serenidade para mim. Esse era o meu prêmio.
Me questiono.
Quem eu seria sem a coragem de romper com a certeza e me jogar, mesmo que muito me custasse? Percebi que optar pelo que tateio e identifico não é conforto, mas medo. Não é viver, mas sobreviver. E a minha dura existência como mulher já é prova de que não posso aceitar nada menos do que tudo aquilo ao alcance da minha imaginação. Alimentei meu espírito. Agora, me percebo voraz, grandiosa e disposta.
Me reencontrei.
Tomei o rumo das ondas, pois aprendi com o MAR, que é imenso e quase infinito, a pisar firme e saltar no desconhecido.
Sobre a autora:

Ludimilla Barreira
Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida. Além disso, é bacharel em Direito, especialista em Direito Público, servidora do executivo estadual e defensora da igualdade.