“Quem fala que sou esquisito, hermético,
É porque não dou sopa, estou sempre elétrico.
Nada que se aproxima, nada me é estranho.
“Fulano”, “cicrano”, “beltrano”,
seja pedra, seja planta, seja bicho, seja humano”.
Em 03 de setembro de 1943 nascia, em Jequié, na Bahia, um dos poetas mais expressivos do século XX. Dono de uma estética literária singular, Waly Salomão foi letrista, ator, artista visual, diretor e articulador cultural, mas o seu maior destaque foi na poesia.
Filho de um imigrante sírio e uma sertaneja, Waly Salomão trocou a advocacia, sua área de formação, pela soberania sobre a linguagem, já que, segundo ele, o poeta, desta, era o senhor. Estudou teatro na Universidade Federal da Bahia, a mesma em que se formou em Direito, e, anos mais tarde, estudou inglês em Nova York, na Columbia University.
Waly Salomão era um artista irreverente, conhecido entre os amigos pelos trotes que pregava em seus companheiros. Estes foram muitos. Dono de letras muito famosas — Cobra Coral (2000); Vapor Barato (1971); Pontos de Luz (1973) — Waly Salomão fez parcerias com diversos nomes da música popular brasileira, dentre eles Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e João Bosco, além de ter suas letras gravadas por Maria Bethânia, Gal Costa, Adriana Calcanhotto, O Rappa, Daniela Mercury, etc.
Em 2006, três anos depois da morte de Waly, Caetano Veloso lançou uma canção em homenagem ao amigo:
“Meu grande amigo
Desconfiado e estridente
Eu sempre tive comigo
Que eras na verdade
Delicado e inocente
Findaste o teu desenho
E a tua marca sobre a terra resplandece
Resplandece nítida e real
[…]
Entre livros e os tambores do vigário geral
E o brilho não é pequeno”
Como na música de Caetano, Waly Salomão era desconfiado e estridente, mas se tem uma palavra que o definia era “liberdade”. Em sua poesia, o artista baiano pregava a liberdade artística. Sua arte era excessiva e rompia as fronteiras da cultura. Por esta razão, no cenário literário, foi o principal nome do Tropicalismo, com uma escrita que concilia poesia concreta e poesia marginal, misturando elementos como neologismos, trocadilhos, irreverência e coloquialidade no seu fazer poético.
Sua primeira publicação foi em 1972. Com o codinome Waly Sailormoon, Salomão publicou Me segura qu’eu vou dar um troço, “uma obra radical, visceral, densa e revolucionária, que marcou a estética pós-tropicalista”, que abriu as portas para uma dezena de outras obras do autor (em vida e póstumas).
A palavra de Waly Salomão está espalhada pelos quatro cantos do país, disseminada pelos seus amigos e leitores. O legado de um artista multifacetado, cujo valor de sua obra torna-se essencial à cultura brasileira.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.