O corpo estava desenhado de dor, camuflado entre terra e mato, a pele parecia brotar do chão, a tatuagem dava nome: cova rasa. Era o suficiente sabe disso para revirar os olhos, coçar a cabeça e remoer o estômago.
Para alguns isso não era satisfatório, se fazia necessário panfletar a brutalidade, como se estivesse espalhando flores.
Não era cinema com violência, mas a violência sem dramaturgia. A mão na cabeça já não pedia consciência. Os gritos desesperados para parar aumentavam a dosagem de selvageria. A faca fez vala como se fizesse rede de pesca.
Na arena romana, a festa se fazia da morte dos bichos. Na arena de hoje, os bichos estão salvos, com algumas exceções. O tribunal da morte dava a sua sentença acompanhado de aplausos e filmagens.
A vida é real, apesar das ilusões que nos jogam para arena das flores artificiais e dos leões famintos. Seus olhos estão fechados: ela foi julgada infinitas vezes, nunca escutada. Agora é tarde. Corpos não brotam da terra.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.