Dia 14 de setembro parecia ser mais uma quinta-feira típica para o brasileiro: acordar, trabalhar, retornar para casa, reclamar do cansaço e se preparar para o “sextou”. “Eta vida besta, meu Deus”, diria o poeta gauche da literatura, Carlos Drummond de Andrade.
É bem verdade que a ciência é fundamentada com base em generalizações advindas das observações de um dado evento. Mas em um texto como esse, generalizar é um erro imperdoável.
Para Thiago de Assis Mathar, um dos participantes dos ataques golpistas de 8 janeiro de 2023, a quinta-feira (14), era um dia extremamente esperado por ele e por sua família. Afinal de contas, seu advogado Henry Kattwinkel Júnior “lacraria” em cima dos ministros da Suprema Corte. Atentar contra o Estado Democrático de Direito, invadir e deteriorar os prédios dos três poderes em Brasília em nome da “liberdade de expressão”, não seria garantido pela própria Constituição?
É verdade: no seu artigo 5º, parágrafo IV diz: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. O que o Thiago de Assis e muita gente não sabe, ou finge não saber, esquece, ou finge esquecer, é a expressão popular: “bateu, levou”.
Dito de outro modo, “liberdade de expressão”, não se trata de um direito ilimitado, acima dos demais e sem consequência. Que fique claro: com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado, lembra-nos o dramaturgo inglês, William Shakespeare.
Mas para entender tudo isso, é preciso sensibilidade, discernimento, bom senso e, claro, muitas leituras, justamente, o que Henry Kattwinkel não tem. Na fatídica quinta-feira, dia 14, o senhor advogado havia preparado uma defesa espetacular e triunfante para o seu cliente, forjada no discurso de ódio, questionando se o Supremo Tribunal Federal (STF) estaria atuando de forma “jurídica ou política”, já que todo patriota tem “o direito de manifestar por meio de atos vandalistas e antidemocráticos”.
O ilustre bacharel tinha todas as frases na ponta da língua, mas foi traído pela salada mista que fez entre dois príncipes: o primeiro foi criado pelo escritor e aviador francês, Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe (1943), o segundo, pelo filósofo e historiador italiano, Nicolau Maquiavel, O Príncipe (1532).
Ou seja, o advogado Hery Kattwinkel, segundo ele, pelo calor das emoções, acabou se confundindo ao fazer referência de uma citação do livro O Príncipe, de Maquiavel, como se fosse de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry
O que ambos têm em comum? São clássicos da literatura de seus respectivos países, têm o vocábulo príncipe no título, além do mais, são desconhecidos pelo advogado Henry Kattwinkel, que foi enfático ao dizer: “Como diz ‘O Pequeno Príncipe’, “os fins justificam os meios”. Nem sempre, meu caro!
Alexandre de Moraes, vulgo Xandão, claro, não perdoou. Chamou de patética e medíocre a atuação do advogado, que, além de virar meme nacional e internacional, foi expulso no dia último dia 15 de setembro do Solidariedade (partido político) “por falas ofensivas e desrespeitosas com a máxima corte brasileira”.
Por enquanto sigo pensando como será a terceira semana do mês para o bacharel: 1) vai ler Antoine de Saint-Exupéry e Maquiavel para não mais confundir os príncipes; 2) vai processar o Google que errou ao lhe passar a informação acerca da informação requerida; 3) vai fazer terapia para lidar com o fato de que seu nome vai ficar na história e nos anais do STF. Independentemente da medida adotada por Henry, uma coisa é certa: Você se torna eternamente responsável pelo que lê e pelo que não lê.
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler