Ler é desnecessário

Gracynha Rodrigues

Estava no Office Café sentado e ouvindo o som dos pássaros, e o barulho ensurdecedor dos carros frenéticos, que insistiam em passar e chegar ao seu destino, então escutei a seguinte fala: “LER É DESNECESSÁRIO”, e isso soou como uma agressão pessoal e coletiva, afinal para um apreciador das palavras ditas e não verbalizadas, isso realmente foi o fim da picada… de súbito pensei que deveria questionar o “ sujeito”, mas por um instante parei e resolvi recuar, pois seria perda de tempo, ele já tinha sua opinião formada, e nada do que dissesse naquele momento faria o indivíduo mudar de opinião, mas uma faísca se acendeu: Será que o sujeito tem razão? de repente algo gritou dentro de mim: NÃOO!!! Um não bem latente e petulante tomou espaço e me atrevi, passando a questionar o todo, a humanidade, os pormenores, que formam a sociedade e os indivíduos.

Então, cheguei à seguinte conclusão: Esse “sujeito” não sabe o que diz. Como ele saia do Office Café naquele momento, não pude ver, mas certamente estava embriagado, sua embriaguez levava-o a dizer um absurdo, e isso me inquietou, mal sabe ele que é na leitura que nos encontramos verdadeiramente, por vezes mergulhamos e emergirmos mais fortes, inteiros. Certamente, não podemos nos enganar, a leitura é para os corajosos, os atrevidos, os que ousam alçar voo e despir de si mesmo. Cair, levantar, viajar e assim transpor para o outro lado, o lado por vezes oculto, desconhecido, sombrio, que o outro nos apresenta e aos poucos vamos desvendando a magia das palavras escritas e ali encontramos um labirinto de palavras ditas e não ditas e uma luz surge, nos fazendo enxergar, passamos a desvendar, supor, recriar uma ideia, um jeito de pensar todo particular e único. Será um mistério, ou será apenas o autor e suas ideias flamejantes, que insiste em nos acompanhar?. Certamente, uma utopia paira nos arredores dos amantes da leitura e um vigor renasce a cada página lida, a cada espera para o próximo capítulo.

Quanto ao sujeito, não sei o que foi feito dele, mas prefiro acreditar que mudou de ideia, resolveu refletir e desdizer o que ele disse, isso seria algo incrível! rsrsrs… Vamos imaginar que o indivíduo disse o que disse sem pensar, todavia, isso já seria uma resposta para o nosso questionamento: Ele disse sem pensar!? Há uma probabilidade enorme de um sim, ele não pensou, poderia ter pensado antes? Teria comedido um erro? Ouso dizer que não, pois o errôneo pode ser comedido por todos, afinal somos humanos. O indivíduo e suas nuances, o acordar, o despertar e seguir mais adiante, um buscar e se encontrar, ele precisará escolher entre o sabor e o dissabor de uma “não leitura”, ou provavelmente passará pela vida sem sentir o âmago, que a leitura desperta no indivíduo. O que nos resta é acreditar que o “sujeito” mudará de ideia, e essa escolha não será nossa, mas de um ser, que um dia ousou dizer o que disse. Sigamos acreditando que ler é altamente necessário.

Sobre a autora:

Gracynha Rodrigues

Formada em Letras pela Universidade Regional do Cariri (URCA), uma apreciadora das palavras, músicas, livros e pessoas. Além disso, é pós-graduada em Literatura e uma aspirante a cronista em desenvolvimento…

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