Luciana Bessa
As Olímpiadas desse ano acontecem em Paris, Cidade Luz para os intelectuais; Cidade do Amor, para os românticos. Mesmo eu não sendo uma mulher que fica em frente à televisão assistindo jogos, talvez porque nunca tenha praticado nenhum esporte, embora não seja uma pessoa sedentária, Paris me mobilizou de tal forma, que passei a acompanhar as competições dentro do que era possível, na vã tentativa de conhecer um pouco mais dessa cidade, cujas ruas pretendo andar um dia.
É realmente um país deslumbrante, França. Não é à toa que até abril deste ano, tenha recebido aproximadamente 5 milhões de turistas, praticamente o dobro do Brasil, nesse mesmo período. E acreditem: apesar de sermos um país marcado pelas desigualdades e termos inúmeros problemas econômicos e políticos, o Brasil possui paisagens naturais absolutamente lindas, como: Lençóis maranhenses, Cataratas do Iguaçu, Delta do Parnaíba, Cânion do Xingô, Floresta Amazônica, e tantos outros lugares que minhas “retinas tão fatigadas” não puderam pousar, ainda.
O certo é que diante da TV, ao invés das belezas de Paris, que são muitas, deparei-me com a força, a determinação e a resiliência das mulheres, em especial, da delegação brasileira. É preciso salientar que dos 277 atletas que foram representar o Brasil em Paris, em 39 modalidades (em algumas nem conhecia), 153 são mulheres, o que representa 55% do grupo.
O quadro de medalhas foi aberto por Larissa Pimenta, no judô. Na sequência, Rayssa Leal, que, aos 16 anos, conquistou outra medalha de bronze. A fadinha é a segunda atleta a conquistar medalhas em edições consecutivas em Jogos Olímpicos (a outra medalha, prata, foi em 2020, em Tóquio).
Para arrebentar meu coração, a ginástica artística fez história em Paris ao conquistar uma medalha na disputa por equipes. E que equipe: Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira. Elas ficaram com o bronze, nós com a certeza de que o Governo investe muito pouco no esporte.
Continuando a aumentar o quadro de medalhas brasileiras, agosto veio com gosto de prata com Rebeca Andrade, no individual geral da ginástica artística, repetindo o que já havia feito em Tóquio em 2020.
No dia 02 (agosto), o Brasil sextou com o sabor do ouro, com a medalha de Beatriz Souza (Judô). Esse feito só havia acontecido em 2016, com Rafaela Silva. Quando vi Bia, uma mulher enorme (literalmente) aos prantos e com o corpo trêmulo, ligando para os pais no brasil e repetindo insistentemente: “eu consegui”, “eu consegui”, “é pra vó”, eu simplesmente fui arremessada ao chão com um ippon e ouvi nitidamente a frase da escritora e filósofa Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
Nessa movência, no dia seguinte, Rebeca Andrade subiu ao pódio pela terceira vez conquistando a medalha de prata na final do salto artístico. Para arrematar o dia 03, a boxeadora Bia Ferreira ficou com a medalha de bronze.
Cinco de agosto, acordei com um único pensamento: Rebeca Andrade continuará fazendo história. Quando a ginástica Simone Biles caiu no final da trave e ficou fora do pódio, tive certeza: é a nossa vez!. Mas não foi… Respirei fundo e pensei: Que bom! Não tive o desprazer de escutar: “Rebeca venceu, porque Biles estava fora da prova”.
Veio, então, a grande final: disputa no solo. Ao som das canções “End of Time”, de Beyoncé, e no “Movimento da Sanfoninha”, de Anitta, Rebeca Andrade obteve uma nota de 14.166 e conquistou a tão esperada medalha de ouro, tornando-se a maior campeã olímpica do Brasil.
Quando avistei a bandeira brasileira no patamar mais alto do ginásio tendo embaixo duas outras dos Estados Unidos, quando escutei o Hino Nacional sendo cantado a plenos pulmões por todos os brasileiros que estavam em Paris e ao redor do mundo (como eu), quando divisei as ginastas Simone Biles (prata) e Jordan Chiles (bronze) referenciando Rebeca Andrade, compreendi que a vida é um eterno movimento. Eu que liguei a TV para ver Paris, presenciei o pódio da ginástica olímpica 2024 formado pela potência de três mulheres negras.
Ouvi dizer que o que “Acontece em Vegas morre em Vegas”, assim como o que acontece em Paris pode se repetir em Los Angeles, na Califórnia, em 2028.
Até terminar esse texto, Tatiana Weston-Webb havia sido a primeira brasileira a ganhar uma medalha (prata) no surfe. Além disso, o futebol feminino jogará a final contra os Estados Unidos. Duas são as possibilidades: ouro ou prata. Claro, prefiro a primeira. Sem contar que a seleção feminina de vôlei, até o presente momento não perdeu nenhum set, está classificado para as semifinais.
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler