Gracynha Rodrigues
Era sexta-feira, e quase pedi o horário. Teria que estar no trabalho às 07h em ponto. Cheguei a tempo e passei direto para sala: isso mesmo, um professor em mais um dia de aula, indo para sala ministrar aula de sociologia. Naquele dia houve um contratempo, mas para um professor era algo considerado normal. Será? Romantizar acontecimentos, fingir que estar tudo bem, por “panos quentes.” Será essa a forma correta de tratar uma sociedade e formar cidadãos?
Que sociedade é essa? Uma massa que corre na contramão do tempo, tentando contornar e desfazer algo já enraizado, assim é a luta diária de um docente, um indivíduo que ousou no auge de sua inconformidade tentar mudar, inovar e fazer o seu melhor. Consigo carregava apenas um pincel, um livro e uma vontade imensa de transformar uma massa esmagadora refém de sua própria ignorância. Uma luta constante e incansável, mas ele passou por cima de tudo, de suas dores, medos, e insegurança, que o acompanhava diariamente. Diria numa manhã de domingo, estou mapeando no escuro. O medo tentou-o barrar inúmeras vezes, no entanto, ele não quis olhar para trás, se recusava a encarar de frente, o que custou seu tempo, sua jornada, e no meio do caminho indagou: Estou certo das minhas escolhas? Afinal, ele se formou professor. Profissão nobre, escolhida por um desejo avassalador de mudar essa sociedade alienada, por vezes estagnada no seu próprio caminhar.
Uma nova indagação surgia e o fez refletir. Será que vale a pena? Essas e outras dúvidas pairavam na sua mente…o icônico Fernando Pessoa, o autor preferido vinha a sua memória e soava: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena.” O grito de esperança tornava-se latente, sua inconformidade e inquestionável busca por mudanças não o deixa recuar. Que sociedade é esta? Um discurso de altivez o impulsionava a exigir, isso era maior do que suponha, era real o desejo de mudar o mundo a partir do seu mundo, seu lar. A sociedade e principalmente o seu entorno. Enquanto estava lá nos seus pequenos devaneios, uma voz soou: Agora você precisa ir para próxima aula, professor?! Acordar era inevitável e como de um sonho confuso, ele acordava. Sim, sim preciso ir, o mundo precisa de mim.
Sobre a autora:
Gracynha Rodrigues
Formada em Letras pela Universidade Regional do Cariri (URCA), uma apreciadora das palavras, músicas, livros e pessoas. Além disso, é pós-graduada em Literatura e uma aspirante a cronista em desenvolvimento…