Crônica reflexiva

Gracynha Rodrigues

Nascer…

Nascemos aos poucos e todos os dias, isso nos permite contemplar o novo, a vida nos é concedida por deleite do mais puro elo humano. Ainda que pareça uma utopia, um brotar constante, exuberante e por vezes exaustiva, é está a vida um emaranhando de buscas. O ano era 1987, eu, você e milhares de pessoas nasciam ao redor do mundo, mas ele deixou-nos, Carlos Drummond de Andrade, provavelmente já tenha ouvindo falar dele pelos corredores da vida… se não, eis a oportunidade. Drummond se foi, mas deixou um legado de poemas, textos que acalentam o existir humano de cada ser. Palavras e versos que ecoam, eternizam- se como uma cor forte que insiste em permanecer lá…, assim são suas palavras vivas, atemporais que iluminam e perpassam gerações. O algo abstrato, não palpável, que nos faz refletir sobre a existência humana. 

Certa vez ele disse: “Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim (…).” Estaria certo Carlos Drummond? Provavelmente sim, somos um presente, uma vida que pulsa no emaranhado de outras vidas, e compartilhar esta mesma vida nos demanda tempo, vontade e um querer que precede uma troca de forma genuína, o contrário não nos cabe. Como sentir falta de algo que não estar presente? Senti-la ou negá-la? Por um instante o contraste de escolhas nos acompanha, e nos leva a escolher algo que diria a contragosto, pois o outro faz parte de uma escolha feita de forma consciente, pois é preciso escolher. 

Perceba que somos imprensados contra nós mesmos, e o outro nos leva a cruel ou suave escolha feita no mesmo instante de ausência. A vida é esse lapidar, um sentir diário, um buscar que faz parte disso tudo. 

O tempo esse nosso amigo forasteiro, soa latente ao despertar do dia, nos fazendo lembrar da vida, está nossa vida que nos foi dada por direito, a qual nos debruçamos e percorremos diariamente. Assim ousamos acreditar que a ausência ou presença estar em nós e não nos outros, está tendência de culpar o outro, parte do ignorante hábito de não nos escolhermos, precisamos responsabilizar alguém pela sua não presença, isso seria mais fácil, e nós? É preciso nos escolher e deixar para que o outro perceba que sua presença é necessária, ainda que não pareça. O tempo dirá o quanto nossa presença é importante, espero que não seja tarde, mas a tempo de nos contemplar e viver o que a todos foi concedido por direito.

Sobre a autora:

Gracynha Rodrigues

Formada em Letras pela Universidade Regional do Cariri (URCA), uma apreciadora das palavras, músicas, livros e pessoas. Além disso, é pós-graduada em Literatura e uma aspirante a cronista em desenvolvimento…

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