Em um momento de transição histórica para a Igreja Católica, com o recente falecimento do Papa Francisco e a iminente escolha de seu sucessor, Conclave surge como uma obra extremamente oportuna e relevante. Dirigido por Edward Berger, o filme não apenas retrata os bastidores do conclave papal, mas oferece uma poderosa reflexão sobre fé, poder e a fragilidade humana dentro das instituições.
A narrativa, baseada na obra de Robert Harris, mergulha na complexidade das decisões que moldam o destino da Igreja. O que poderia ser apenas um thriller político se transforma em um drama denso e intimista, onde cada gesto carrega o peso de séculos de tradição, e cada escolha revela mais sobre os homens por trás das vestes cardinalícias do que sobre a própria Igreja.
O protagonista, Cardeal Lomeli, interpretado com sutileza e intensidade por Ralph Fiennes, é um homem assombrado pelas incertezas da fé e da liderança. Ele não é apresentado como um herói infalível, mas como alguém que, em meio a uma crise de confiança e à pressão institucional, busca desesperadamente fazer o que é certo. Isso o torna não apenas um personagem crível, mas profundamente tocante.Uma das falas mais marcantes do filme acontece quando Lomeli sussurra, em reflexão: “Não somos escolhidos por sermos os melhores (…), mas talvez por sermos os que mais precisamos de redenção”.
Essa frase sintetiza o espírito do filme: a liderança como um fardo sagrado, e não como um prêmio de mérito. Conclave dialoga com os tempos atuais, especialmente em um mundo cada vez mais desconfiado de instituições e líderes. Em meio a escândalos, polarizações e disputas de poder dentro e fora da Igreja o filme levanta a pergunta: quem merece liderar? E mais do que isso: o que significa liderar com verdade, num cenário em que até a fé pode ser manipulada?
O roteiro tem o mérito de não cair na caricatura fácil da Igreja como monólito corrupto. Pelo contrário: mostra o conflito interno de homens que, embora poderosos, também são frágeis, divididos, humanos. Em tempos em que a humanidade parece faltar em tantas esferas de decisão política e religiosa, Conclave oferece uma poderosa lembrança de que a integridade, mesmo silenciosa, ainda pode prevalecer.
Assim como o mundo real acompanha transições de poder e crises de identidade seja nos palácios do Vaticano, nos gabinetes da política ou nas redes sociais, o filme nos convida a refletir sobre as vozes que escolhemos ouvir. E, talvez mais importante, sobre o silêncio que às vezes é necessário para escutar o que realmente importa.
Premiações: Vencedor do Globo de Ouro 2025 de Melhor Roteiro Adaptado; 8 indicações ao Oscar 2025, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para-Ralph Fiennes; 12 indicações ao BAFTA 2025, incluindo Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.
Gênero: drama, suspense
Duração: 2 horas
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Edward Berger
Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Isabella Rossellini, Lucian Msamati, Carlos Diehz, Sergio Castellitto, Brían F. O’byrne, Merab Ninidze, Thomas Loibl E Jacek Koman
Sobre a autora:

Natalia Silva
Coordenadora administrativa em uma instituição de ensino técnico (Cedup), apaixonada por cinema e pseudo-crítica nas horas vagas. Acredito no poder dos filmes para contar histórias inesquecíveis, despertar emoções e expandir nossa percepção do mundo. Entre críticas e análises, me jogo em diferentes gêneros e busco sempre novas perspectivas sobre o cinema.
Criadora da página do Instagram Cine Histeria (@cine_histeria), onde compartilho reflexões sobre o universo cinematográfico.