Maria das Neves Batista Pimentel: a paraibana por trás do alagoano

Shirley Pinheiro

Primeiro foi seu pai, segundo seus irmãos, depois dela, muitas outras. Maria das Neves Batista Pimentel é considerada a primeira mulher a publicar cordéis no Brasil abrindo as portas da poesia popular para outras poetisas.

Nascida em João Pessoa, no dia 02 de agosto de 1913, era filha de um dos maiores poetas populares do Nordeste, Francisco das Chagas Batista, dono de uma livraria e topografia na capital paraibana. 

Com essa grande influência artística, era de se esperar que a filha seguisse os passos do pai, como fizeram seus irmãos. Só que no sertão nordestino, em meados do século XX, essa não era a realidade das mulheres que escreviam. E, para ter sua obra publicada, a solução que Maria das Neves encontrou foi usar como pseudônimo o nome do seu marido Altino Alagoano: 

Todos os folhetos que foram vendidos na Livraria de meu pai ou que foram impressos, tinham nome de homem, eram homens que faziam, não existia naquele tempo, folheto feito por mulher, e eu, para que não fosse a única, né?, meu nome aparecesse no folheto, não fosse eu a única, então eu disse: 

– Eu não vou botar meu nome. 

Aí meu marido disse: 

– Coloque Altino Alagoano.

(PIMENTEL apud MENDONÇA, 1993, p. 70).

Foi assim que, em 1938, tornou-se a matriarca da história do cordel, com obras como “O Corcunda de Notre Dame”, “O Amor Nunca Morre” e, o mais conhecido, “O Violino do Diabo ou o Valor da Honestidade”, todos baseados em obras eruditas de Victor Hugo, Abade Prévost e Victor Perez Escrich, com o intuito de tornar estas obras acessíveis aos leitores e ouvintes menos letrados. “Eu transformei aquela literatura no linguajar do povo, no modo que o povo fala, que o povo entende” (PIMENTEL apud MENDONÇA, 1993, p. 71). Qualquer um de nós pode ser contaminado pela literatura, desde que sua linguagem atraia o leitor. 

Vivemos em tempos complexos e com uma variedade de veículos de comunicação. Logo, a literatura, como um produto social, precisa ser atraente, instigante e envolvente. 

Além de escritora excepcional e pioneira na publicação de folhetos, Maria das Neves Batista Pimentel foi uma grande leitora. Segundo sua filha Alzinete Pimentel, seu arcabouço literário conta com diversos autores nacionais e internacionais, todos registrados com sua grafia impecável. Todo escritor é um potencial leitor. 

Todo esse pioneirismo levou a professora e poeta Paola Torres a criar, em 2019, a Cordelteca Maria das Neves Baptista –  localizada na Biblioteca Central da Unifor, em Fortaleza-Ce, com acesso gratuito para o público em geral. Sejamos leitores dessa mulher, paraibana, cordelista. 

MENDONÇA, Maristela Barbosa de. Uma voz feminina no mundo do folheto. Brasília: Thesaurus, 1993.

Sobre a Autora:

Shirley Pinheiro
Shirley Pinheiro

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

3 thoughts on “Maria das Neves Batista Pimentel: a paraibana por trás do alagoano

  1. Já não era sem tempo para se fazer jus às mulheres cordelistas.
    Pelo que li, o comentário de Shirley pois não conhecia a escritora trata-se de grande talento e pioneirismo.

  2. Bom dia!
    Como ter acesso ao texto em Literatura de Cordel da poeta parsibana Maria das Neces Batista “O violino … o valor da honestidade”?

  3. Maria das Neves Pimentel, Filha de Francisco das Chagas Batista e Ugolina Nunes Batista. Ugolina Filha de Antonio Ugolino Nunes da Costa ( Ugolino do Sabugi).
    Eu sou Manoel Nunes Cambuim, Bisneto de Ugolino do Sabugi, pioneiro no Brasil com cantador de improviso.
    Os descendentes de Ugolino e seus irmãos, formaram uma grande dinastia de poétas e repentistas. Paulo Nunes Batista irmão de Maria das Neves Pimentel, falecido em Anápolis GO, também foi um grande cordelista.

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