Era uma vez uma mulher e seu tempo: Cora Coralina – uma vida vivida com sabedoria

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, poeta que ficou conhecida como Cora Coralina, nasceu no dia 20 de agosto de 1889, na cidade de Goiás, no estado de Goiás. Durante sua vida foi doceira, vendedora de livros, escreveu para jornais, candidatou-se a vereadora, além de ter sido uma poetisa e contista excepcional.

Sua poesia é caracterizada pela simplicidade e delicadeza cotidiana de uma mulher que versou os próprios aprendizados durante sua passagem pela vida. Cora Coralina começou a escrever aos 14 anos, e chegou até a publicar alguns de seus escritos, no ano de 1908, no jornal de poemas “A Rosa”. Mas foi somente aos 75 anos que ela publicou seu primeiro livro: “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”. Em 1922 foi convidada a participar da Semana de Arte Moderna, mas as limitações impostas pelo marido a impediram de participar. Para compreender Cora é preciso lê-la:

Ofertas de Aninha

(Aos moços)

Eu sou aquela mulher

a quem o tempo

muito ensinou.

Ensinou a amar a vida.

Não desistir da luta.

Recomeçar na derrota.

Renunciar a palavras e pensamentos negativos.

Acreditar nos valores humanos.

Ser otimista.

A poética da autora de “Meu Livro de Cordel” é marcada por mensagem de superação e resiliência, conversando diretamente com a própria resistência que ela teve para enfrentar as adversidades de seu tempo, incluindo a responsabilidade de criar seis filhos sozinha após a morte de seu marido em 1934.

Aos 90 anos, Cora foi “descoberta” pelo poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, com quem trocou correspondência. Os elogios de Drummond foram essenciais para o reconhecimento literário de Cora Coralina.

“Assim é Cora Coralina, repito: mulher extraordinária, diamante goiano cintilando na sua solidão e que pode ser contemplado em sua pureza no livro Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. (…) Se há livros comovedores, este é um deles. Cora Coralina, pouco conhecida dos meios literários fora de sua terra, passou recentemente pelo Rio de Janeiro, onde foi homenageada pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, como uma das 10 mulheres que se destacaram durante o ano. Eu gostaria que a homenagem fosse também dos homens. Já é tempo de nos conhecermos uns aos outros sem estabelecermos critérios discriminativos ou simplesmente classificatórios”

Depois do contato com Drummond, Cora Coralina foi também agraciada com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Goiás. Em 1983, ganhou o “Prêmio Juca Pata” da União Brasileira de Escritores, com o livro “Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha”. E em 1984 foi nomeada à cadeira nº 38 da Academia Goiana de Letras.

A casa em que viveu grande parte de sua vida, à beira do Rio Vermelho, deu título ao seu único livro de contos: “Histórias da Casa Velha da Ponte”, que foi transformada em um museu no ano de 1989, e hoje é uma das atrações mais visitadas do Goiás.

Cora, uma mulher extraordinária, que mesmo nascida em tempos rudes, conseguiu se adaptar às suas limitações e fez a própria vida um poema, fez moradia no coração dos jovens e na memória das gerações posteriores.

Fonte:

FUKS, Roberta. Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora. Cultura Genial. Disponível em: <https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/>. Acesso em: 16 de ago. 2021

Shirley Pinheiro
Shirley Pinheiro

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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