Surgida por volta do século XVI, a Literatura de Cordel foi trazida para o Brasil pelos portugueses colonizadores e rapidamente se disseminou pelos estados nordestinos. No entanto, na década de 80, a produção e leitura dessa literatura diminuíram pouco a pouco. Rumores diziam que até o ano de 2000, ninguém mais leria ou procuraria pelos cordéis e, ali mesmo, essa cultura acabaria.
Foi sob esse contexto que o cordelista, folclorista, radialista e jornalista cratense, Elói Teles de Morais, popularmente conhecido como Seu Elói, fundou a Academia dos Cordelistas do Crato (ACC). Preocupado com o desaparecimento dos folhetos, Seu Elói reuniu um grupo de onze poetas (alguns já possuíam cordéis publicados, outros enviavam versos para seu programa “Coisas do Meu Sertão”, na rádio Educadora do Cariri e se encaixavam na estética da Literatura de Cordel), e juntos, em janeiro de 1991, criaram a ACC.
No folheto, Falando de mim e da Academia (2015), o poeta Luciano Carneiro, que ocupava a cadeira nº 02 diz:
Elói Teles de Morais
Convidou a gente um dia
Andava preocupado
Com o que acontecia
E disse nós não podemos
Desprezar a poesia.
Criou-se a Academia
Dos Cordelistas do Crato
Mestre Elói, eu e mais outros
Fizemos ali um trato
De defender o cordel
E acabar com o boato
(CARNEIRO, 2015, p. 08)
Carinhosamente conhecida como “a morada da poesia”, a ACC está localizada no Centro da cidade, na rua Rui Barbosa. Atualmente é composta por vinte poetas populares e é presidida pela cordelista Anilda Figueiredo, que ocupa a cadeira nº 07, que foi do Seu Elói.
A Academia dos Cordelistas do Crato possui em seu acervo mais de 1 milhão de folhetos, produzidos artesanalmente, colocando letra por letra, num processo longo e demorado. Para concorrer a uma vaga na ACC, o cordelista precisa submeter uma carta e um cordel que será criteriosamente analisada e avaliada por seus membros. Sobre isso, Luciano Carneiro também versou:
Naquele órgão pacato
Só entra escolhido a dedo
Não tem privilegiado
Isso nunca foi segredo
Quem não honrar a cadeira
Desocupa o canto é cedo.
[…]
Na Morada da Poesia
Temos a felicidade
De agruparmos poetas
De responsabilidade
Quantidade não importa
Primamos por qualidade
(CARNEIRO, 2015, p. 04 – 05)
A força e resiliência do povo nordestino se reflete na resistência e preservação da Literatura de Cordel, que já é nossa tradição. Os folhetos de cordéis trazem diversão e informação aos seus leitores. Carregam em seus versos nossa história, nossas lutas e nossa cultura. E como disse Luciano Carneiro, “viva a cultura cordelística brasileira!”.
FONTES:
CARNEIRO, Luciano. Falando de mim e da Academia. 2015.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.