Carta à Paulo

Mestre Paulo Freire,

As notícias que trago neste dia 19 de setembro, dia do seu centenário, não são muito promissoras, mas a Esperança que aprendi com você (do verbo “esperançar”), daquela que faz a gente se levantar, jogar a poeira pra cima e correr atrás dos nossos ideais, pulsa em cada palavra que escrevo e em cada ação da minha caminhada. 

Ninguém escapa à educação. Ao longo dos séculos, ela tem sido criada e recriada, como tantas outras invenções da cultura humana. Infelizmente, em pleno século XXI, com todos os avanços da tecnologia, algumas pessoas insistem em defender uma educação tradicional, conteudística, punitiva, baseada na hierarquização, em que os estudantes são vistos como máquinas assimiladoras de conteúdo. 

E tudo aquilo que você nos ensinou –  e permanece ensinado por meio de sua vasta obra – sobre uma educação libertária, autônoma, reflexiva, crítica, que valoriza a história individual de cada um e que agrega a diversidade, tem sido combatida veementemente pelo Governo Federal. 

Você acredita que em nossos tempos as armas são valorizadas e os livros são taxados? Você imagina que no ano de 2019, conforme os dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil amargou posições vergonhosas: “entre 58º e 60º lugar em leitura, entre 66º e 68º em ciências e entre 72º e 74º em matemática.  Você consegue imaginar um Ministro da Educação defendendo que a “universidade deveria ser para poucos”? Você consegue conceber que esse funcionário do Governo, pago com o nosso dinheiro, teve o acinte de dizer que as crianças com deficiência “atrapalham” o ensino dos demais estudantes? Pasme, Paulo Freire, mas o “inclusivismo”, terminologia usada por esse senhor, é um “exclusivismo”.

Eu fico aqui me perguntando qual a função de uma educação que segrega, que pune, que exclui?  Sinceramente, só consigo enxergar malefícios tanto para o povo, como para o país que se torna símbolo de desigualdade e do retrocesso.

Paulo Freire, em pleno século XXI, (a maioria) das instituições de ensino continuam ambientes silenciosos e disciplinadores.  Aprendemos a ler (mas não gostamos de ler), aprendemos a escrever (mas escrevemos mal), aprendemos as quatro operações (mas temos dificuldade em administrar nossa vida financeira), aprendemos tanto conteúdo de Física, Química, Biologia, Geografia e História, mas não nos importamos com os infortúnios de nossos semelhantes.

Embora o pão esteja caro (e a gasolina e o gás) e a liberdade pequena para lembrar outro nordestino, Ferreira Gullar, sigo na Esperança de dias melhores feito por homens e mulheres que se renovam a cada instante.

Sobre a autora:

Luciana Bessa Silva

Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *