“Não quero assustar ninguém.
Mas se todos se escondem no sorriso
na palavra medida
devo dizer
que o poeta gullar é uma criança
que não consegue morrer
e que pode
a qualquer momento
desintegrar-se em soluços“
Em 10 de setembro de 1930, nascia em São Luís no Maranhão, o poeta que Vinícius de Moraes viria a chamar de “o último grande poeta brasileiro”: José Ribamar Ferreira – escritor, teatrólogo, tradutor e crítico de arte. Ficou conhecido pelo pseudônimo Ferreira Gullar, uma junção dos sobrenomes de seus pais, que ele adotou após ser confundido com outro poeta maranhense, Ribamar Pereira.
Apesar das várias funções que exerceu, Ferreira Gullar dizia que sua atividade fundamental era a poesia. E assim foi. Na adolescência, quando ficou “chocado por ter que tornar-se adulto, e tornou-se poeta”, teve seu primeiro contato com a poesia moderna, outro choque, pois esta não lhe agradou muito. Mas, disposto a entender as novas formas de fazer arte, tornou a ler os poetas mineiro Carlos Drummond de Andrade e o pernambucano Manuel Bandeira. A partir de uma outra visão poética compreendeu sua excepcionalidade e, foi então, que aderiu ao Modernismo.
Aos 19 anos publicou seu primeiro livro Um Pouco Acima do Chão (1949), mas foi só em 1954, com a publicação de A Luta Corporal que ele se lançou no cenário literário nacional. Em 1959, publicou um manifesto intitulado Teoria do não-objeto , dando origem ao Movimento Neoconcreto, que se opunha ao Concretismo, que pregava uma poesia racional, objetiva e geométrica.
Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Gullar foi perseguido politicamente por se opor à opressão do período da Ditadura Militar. Exilado, passou por Moscou, Santiago e Lima. E foi em Buenos Aires, entre maio e outubro de 1975, quando acreditava que aquele poderia ser o seu “testemunho final”, que Ferreira Gullar escreveu o Poema Sujo , considerado por muitos sua obra-prima. Responsável por trazê-lo de volta ao seu país depois de seis anos, em 1977, é uma obra de quase cem páginas, onde ele diz:
” Meu corpo
que deitado na cama vejo
Como um objeto no espaço
que mede 1,70m
e que sou eu: essa
deitada
barriga pernas e pés
com cinco dedos cada um (por que
não seis?)
joelhos e tornozelos
para mover-se
sentar-se
levantar-se
meu corpo de 1,70m que é meu tamanho no mundo
meu corpo feito de água
e cinza
(…)
corpo que se pára de funcionar provoca
um grave acontecimento na família:
sem ele não há José Ribamar Ferreira
não há Ferreira Gullar”
Ocupante da cadeira n° 37 na Academia Brasileira de Letras, foi um dos fundadores do Teatro Opinião, onde escreveu, junto com Oduvaldo Viana Filho, as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e
Saída? Onde fica a saída? . É vencedor de dois Prêmios Jabutis com as obras Resmungos (2007) e Em alguma parte alguma (2011). Em 2010 recebeu o Prêmio Camões e em 2002 foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.
Ferreira Gullar ficou eternizado na poesia brasileira. Musicado por vários artistas, como Fagner, Nara Leão, Milton Nascimento e Chico Buarque, o poeta afirmava que a arte existe porque a vida não basta. E uma vida não bastaria para a genialidade e excepcionalidade de José Ribamar Ferreira, por isso nós o levamos no coração, no lembrar e no esquecimento.
FONTES:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL). Disponível em: <https://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D1042/biografia>. Acesso em: 09 Out. 2021
COMPANHIA DAS LETRAS. Ferreira Gullar Conta como escreveu “Poema Sujo”. YouTube, 25 Out. 2016. Disponível em: <https://youtu.be/atJKqa_sNOk>. Acesso em: 09 Out. 2021
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.