Considerada pioneira do feminismo no Brasil, Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, nasceu no dia 12 de outubro de 1810, em Papary, no interior do Rio grande do Norte, município que, mais tarde, em 1948, viria a se chamar Nísia Floresta, em homenagem à sua mais ilustre cidadã.
Escritora, poetisa e educadora, Nísia Floresta teve grande importância para a educação das mulheres brasileiras. Seu primeiro livro, intitulado “Direito dos Homens e Justiça das Mulheres”, é uma tradução adaptada à realidade nacional da obra “Vindication of the Rights of Woman”, da escritora britânica Mary Wollstonecraft. No livro, Nísia se apropria do texto de Wollstonecraft, transformando-o numa obra com elementos da cultura local, o que lhe concede a ideia de que não era uma simples tradução e sim uma adaptação. Nele, Nísia Floresta diz:
“[…] a única razão porque nos fecham o caminho às ciências é temerem que nós as levemos a maior perfeição que eles. Todos sabem que a diferença dos sexos só é relativa ao corpo […] não se pode dizer que o corpo constitui alguma diferença real nas almas. Toda sua diferença, pois, vem de educação, do exercício e da impressão dos objetos externos, que nos cercam nas diversas circunstâncias da vida” .
Desde sua juventude, Nísia Floresta se posicionava em defesa dos direitos dos negros, indígenas e, em especial, das mulheres, estas que, segundo ela, recebiam educação muito inferior à dos homens. Geralmente reservadas ao lar, as mulheres eram enclausuradas à aprendizagem das atividades domésticas, de bordado, de como ser uma boa esposa, uma boa mãe e uma boa dona de casa. Enquanto isso, os homens aprendiam ciências, matemática e linguagens.
Aos poucos, com o movimento feminista e suas ondas, as mulheres galgaram os caminhos à conquista dos direitos que temos hoje. Em 1827 lhes foi permitido o acesso aos estudos além do ensino primário. Em 1879, conquistaram o direito de ingressar no ensino superior. No entanto, apesar do direito garantido por lei, em pleno século XXI, o acesso de meninos e meninas à escola ainda não é igualitário por diversos fatores. Recentemente, com o veto do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, ao projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional, que visava a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda e mulheres em situação de vulnerabilidade, de rua e recolhidas em unidades do sistema prisional, levantou discussões, principalmente nas redes sociais, acerca da evasão escolar de meninas (além de homens transgêneros e pessoas que menstruam) por falta de produtos básicos de higiene no período menstrual. Pesquisas apontam que uma a cada quatro estudantes não frequenta a escola durante a menstruação por falta de acesso aos absorventes.
“Segundo a PNS 2013, a média de idade da primeira menstruação nas mulheres brasileiras é de 13 anos, sendo que quase 90% delas têm essa primeira experiência entre 11 e 15 anos de idade. Assim, a maioria absoluta das meninas passará boa parte de sua vida escolar menstruando”.
Com isso, perdem, em média, até 45 dias de aula, por ano letivo, como revela o levantamento “Impacto da Pobreza Menstrual no Brasil” […] O ato biológico de menstruar acaba por virar mais um fator de desigualdade de oportunidades entre os gêneros”. (Fonte: Agência Senado)
Em luta pela educação feminina, Nísia Floresta, aos 28 anos, criou, no Rio de Janeiro, uma escola revolucionária para mulheres que ensinava matemática; gramática; leitura de português, francês e italiano; ciências naturais e sociais; dança e música. Alvo de críticas da sociedade da época, teve sua dignidade atacada, muitas vezes sendo chamada de promíscua pelos jornais locais. Nísia Floresta viajou para diversos países do mundo, onde teve contato com vários influenciadores e sua obra, como o pensador francês Augusto Comte, pai do Positivismo, uma corrente filosófica que valorizava o método científico baseado em fatos e experiência, em recusa às discussões metafísicas.
A obra publicada de Nísia Floresta consiste em 15 livros com prestígio internacional e grande material para estudos de gênero. No entanto, apesar da grandeza reconhecida pela influência da emancipação e da educação feminina, Nísia sofreu o que parece ser o mal que afeta todas as mulheres transgressoras e revolucionárias, o memoricídio. Sua obra ainda enfrenta o esquecimento e silenciamento reservados aos feitos femininos. Mas para conservar e difundir a memória de Nísia Floresta, no caminho inverso ao pagamento, foi criado, em 2012, o museu Nísia Floresta, que além das exposições, livros, filmes e ilustrações sobre a escritora potiguar, funciona como Centro Cultural, com o desenvolvimento de atividades educativas e culturais.
Uma mulher à frente do seu tempo, Nísia Floresta Brasileira Augusta é uma inspiração para as mulheres dos nossos dias. Inspiração para continuarmos lutando pelos nossos direitos, pelo nosso espaço político, pelos nossos corpos, pela nossa liberdade sexual e, principalmente, pela liberdade de sermos mulheres.
Fontes:
FRANÇA, Tádzio. Um cordel para Nísia. Tribuna do Norte, 2020 <http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/um-cordel-para-na-sia/488144 > Acesso em: 09 de out. 2021
LIMA, Paola. O que é a pobreza menstrual e por que ele afasta estudantes das escolas. Agência Senado, 2021 <https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/07/o-que-e-pobreza-menstrual-e-por-que-ela-afasta-estudantes-das-escolas > Acesso em: 09 de out. 2021PINHEIRO, Tatá. As principais conquistas das mulheres na História. Nova Escola, 2019 <https://novaescola.org.br/conteudo/16047/as-principais-conquistas-das-mulheres-na-historia > Acesso em: 09 de out. 2021
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.
E pensar que mesmo morando no mesmo estado, raramente se é falado de grandes influências como nisia floresta nas escolas. O memoricidio é uma macula muito grande a ser vencida, mas não impossível de ser. Perfeito 💖💖💖
Beleza.
Eu não conhecia essa mulher.
Realmente é mais uma Bárbara.
Valeu Shyrloca.