Escritor, dramaturgo, jornalista e político – Senador e Ministro da Justiça no reinado de Dom Pedro II – José de Alencar, o neto de Bárbara de Alencar, primeira presa política do Brasil, foi um dos prosadores mais emblemáticos do século XIX. Nasceu em 01 de maio de 1829, na “terra do sol”, Fortaleza, em Messejana, bairro que serviu de berço para personalidades, como o arcebispo Dom Hélder Câmara e o ex-presidente Castelo Branco.
Foi na capital do Império, Rio de Janeiro, ao ver a euforia que a leitura de A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, primeiro romance com qualidades literárias publicado em solo brasileiro, causava nos leitores, que descobriu o que desejava fazer por toda a sua vida: ser romancista.
Ao todo foram vinte romances, além das sete peças de peças de teatro, crônicas – Ao correr da pena (1874) e textos de natureza crítica, Cartas sobre a confederação dos tamoios (1865), um conjunto de missivas em que Alencar critica de forma contundente a obra de Gonçalves de Magalhães, poeta admirado e elogiado pelo então imperador, Dom Pedro II. Há, ainda, uma autobiografia – Como e porque sou romancista (1893), em que Alencar nos conta seu interesse pelos romances, as leituras de autores estrangeiros, como Lord Byron, Honoré de Balzac, Victor Hugo, dentre tantos outros. O menino “ledor” que se transformaria em um dos maiores romancistas de seu tempo, também teceu críticas ao meio e ao mercado literário, citando, inclusive, alguns episódios vivenciados pelo escritor.
José de Alencar, o maior nome da prosa indianista do Romantismo, escreveu O guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Dotado de uma prolífera imaginação poética, produziu, ainda, de forma primorosa, romances históricos As Minas de Prata (1865/1866) e Guerra dos Mascates (1871/1873); romances regionalistas O gaúcho (1870), O tronco do Ipê (1871), Til (1872) e O sertanejo e idealizou alguns dos perfis femininos mais instigantes de nossa literatura, que podem ser conferidos nos romances: Lucíola, Diva e Senhora.
Em Lucíola (1862), conhecemos Lúcia, uma mulher forte e inconformada com as intempéries da vida. Para salvar a família de uma grave doença se prostituiu. Desprezada pelos que amava e rechaçada pela sociedade, optou pela morte.
Diva (1864) traz jogos de amor, capricho e orgulho entre o casal Emília e Dr. Augusto Amaral. Logo em seu prólogo, Alencar comenta acerca das críticas que recebia pelo uso excessivo de “galicismos”. Alegava que “(…) devem as línguas aceitar algumas novas maneiras de dizer, graciosas e elegantes, que não repugnem ao seu gênio e organismo”. A escrita alencarina, considerada descritiva e difícil, infelizmente afastou alguns leitores de sua extensa obra.
Em Senhora (1875), somos apresentados a Aurélia Camargo, moça pobre, inteligente e apaixonada pelo namorado, Fernando Seixas, que a troca por Adelaide Amaral, cujo dote lhe possibilitaria sair da miséria. Nas reviravoltas da vida, Aurélia, torna-se uma mulher rica e “compra” seu antigo amor, que por sua vez, se torna um homem trabalhador em busca de redenção. Ao final, o romance é dividido em quatro partes – o preço, quitação, posse e resgate – o amor sai vencedor. Exceto o primeiro romance citado, os outros dois seguem a mesma fórmula: percalços no caminho de um casal e final feliz.
Leitor ávido, dotado de uma enorme capacidade imaginativa e domínio da técnica romanesca, possuidor de uma obra extensa, marcada ora pela leveza, ora pela crítica contundente à sociedade do século XIX, José de Alencar é um romancista fabuloso.
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler