Maria Bethânia, a sedução e o encantamento da “Abelha Rainha da MPB”

“Maria Bethânia, please send me a letter

I wish to know the things are getting better

Better, better, beta, beta, Bethânia”

(Caetano Veloso, 1978)

Há 76 anos, nascia em Santo Amaro, na Bahia, aquela que viria a ser um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira (MPB). Um nome que inspira música desde o próprio batismo. “Maria Bethânia”, sugerido por Caetano Veloso, seu irmão mais velho, um companheiro de vida e de estrada, e inspirado na canção de Nelson Gonçalves, foi a escolha perfeita para incorporar todo o encanto de uma mulher que transborda poesia em sua voz e em suas canções.

Maria Bethânia, a dona de uma voz envolvente e de performances musicais dotadas de sedução, veio ao mundo em 18 de junho de 1946. Filha de Seu Zezinho e Dona Canô, a arte percorria suas veias desde o nascimento. A partir de então, Bethânia trilhou seu caminho de sucesso — não livre de pedras — e se tornou conhecida como “Abelha Rainha da MPB”.

Cantora, compositora e poeta, a estreia de Maria Bethânia foi em um teatro às escuras, ao qual, com exceção daqueles que a conheciam, ninguém sabia quem estava cantando, o que evidenciou exclusivamente seu talento, que deixou o público estático, dentre eles, o poeta carioca, Vinícius de Moraes, que ficou encantado com a apresentação. No entanto, o pontapé inicial de sua carreira foi em 1965, quando Nara Leão, a musa da Bossa Nova, a convidou para substituí-la no espetáculo Opinião, uma das primeiras manifestações culturais a se rebelar contra o regime militar vigente na época. Nas palavras de Bethânia, Nara foi crucial na consolidação de sua carreira — “Eu tenho heroínas na minha vida, e Nara é uma delas. Ela foi a chave para o conto de fadas que Deus escreveu para mim”.

Nesse período, os irmãos Veloso já haviam se mudado para o Rio de Janeiro, onde conheceram Gal Costa e Gilberto Gil, dois baianos que há pouco viviam na capital carioca. Juntos caíram nas graças de um grande público no sudeste brasileiro, consolidando-os no cenário da música popular. Atualmente, todos ocupam posições de destaque na lista de “100 maiores nomes da música brasileira”, da revista Rolling Stones, considerada a principal fonte sobre música no mundo inteiro. Em 1978, Maria Bethânia se tornou a primeira cantora brasileira a superar 1 milhão de cópias vendidas de um mesmo álbum: Álibi.

A voz de Maria Bethânia eternizou canções — Reconvexo, As canções que você fez para mim, Gostoso Demais —, diversas vezes foi trilha sonora de novelas — Fera Ferida, Cheiro de Amor, Pantanal. Dentre as mais conhecidas, Carcará, composta por João do Valle e José Cândido para o espetáculo Opinião, foi a mais marcada pela interpretação da cantora, cuja letra exalta a coragem nordestina para enfrentar a fome do sertão. A canção é acompanhada pela declamação de um texto sobre a migração dos nordestinos expulsos de suas terras pela seca e fome — “Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia! 17% de Alagoas!”

Maria Bethânia coleciona parcerias com cantores da MPB, Ana Carolina, Adriana Calcanhotto, Chico Buarque e Zeca Pagodinho são só alguns dos vários que podem ser citados, no entanto, seu maior parceiro foi Caetano Veloso, que até hoje lhe dedica belíssimas canções. A cantora, que mantém sua vida pessoal reservada, é uma namoradeira confessa, que diz se atrair por homens viris, “rapazes corajosos, valentes, mas doces demais e suaves e amorosos, encantadores e poéticos” e se encantar com os olhares das mulheres — “Acho que o olho é uma bandeira […] Olho e mão são muito fortes para mim”. Prestigiada por onde passa, Bethânia canta, encanta e seduz com a voz, com o corpo e com poesia.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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