Shirley Pinheiro
Na Aurora Eu Nasci…
“Na rua Aurora eu nasci
na aurora de minha vida
E numa aurora cresci
no largo do Paiçandu
Sonhei, foi luta renhida,
Fiquei pobre e me vi nu
nesta rua Lopes Chaves
Envelheço, e envergonhado
nem sei quem foi Lopes Chaves
Mamãe! me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado
Como esses nomes da rua”
Mário de Andrade se dizia “um escritor difícil, que a muita gente enquizila”. Natural da capital paulista, “nasceu, acompanhado daquela estragosa sensibilidade que deprime os seres e prejudica as existências, medroso e humilde”, em outras palavras, era poeta.
Nascido no final do século XIX, em 9 de outubro de 1893, Mário de Andrade foi essencial nas mudanças ocorridas no século seguinte. O poeta, que também foi escritor; musicólogo; historiador de arte; crítico e fotógrafo, é um dos principais nomes do Modernismo brasileiro. O autor é indispensável para compreender o movimento que transformou o fazer artístico nacional.
Ao lado do também escritor Oswald de Andrade e dos artistas plásticos Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, Mário de Andrade organizou a Semana de Arte Moderna, um foi esse evento grandioso, pensado por duas décadas que objetivava romper as estéticas e as ideologias na hora de fazer arte.
Como musicólogo, logo cedo Mário de Andrade começou seus estudos de música. Na adolescência, tanto que largou o curso de Filosofia e Letras da Escola de Comércio Álvares Penteado para estudar piano. Seu talento era indiscutível, e ele teria se tornado um grande musicista brasileiro, se não fosse a tragédia que tirou a vida de seu irmão, fato que o abalou profundamente e causou-lhe tremores nas mãos. Mais tarde, Mário de Andrade conseguiu se formar e tornou-se professor de História da Música, no conservatório que estudou. Através de seus ensaios, estudos críticos sobre a música, principalmente sobre a música folclórica, consagrou-se ao longo da história, tornando-se um ícone da música brasileira na atualidade.
Como poeta, Mário de Andrade publicou seu primeiro livro aos 24 anos, uma obra cujo próprio título já é uma poesia: Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917). Um livro escrito em contexto de conflitos bélicos, quando a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) assombrava o território europeu. É uma obra repleta de críticas aos assombros do tempo em que estava inserido, sendo considerada uma espécie de manifesto pacifista.
Em 1922, ano em que aconteceu a Semana de Arte Moderna, Mário publicou Paulicéia Desvairada e, em 1927, deu à luz sua obra Clã do Jabuti, uma viagem pelas tradições populares brasileiras. Mas foi em 1928 que Mário de Andrade publicou aquela que seria a sua obra-prima, Macunaíma, a história do indígena que dá título ao livro, um herói sem nenhum caráter.
Mário de Andrade é o que se pode chamar de “escritor completo”, transitou entre poesia, contos, crônicas e romances, consolidou uma ideologia artística e se entregou no ramo musical. Não é à toa que é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.