Era uma vez, Ziraldo

Era uma vez um menino maluquinho.

Ele tinha o olho maior do que a barriga

tinha fogo no rabo

tinha vento nos pés

umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo)

e macaquinhos no sótão (embora nem soubesse o que significava macaquinho no sótão).

Ele era um menino impossível!

Ele era muito sabido

ele sabia de tudo

a única coisa que ele não sabia

era como ficar quieto.

Seu canto

seu riso

seu som

nunca estavam onde ele estava”.

(Ziraldo, 1980)

Em 2021, se deu nas redes sociais, em especial no Twitter, uma guerra entre as gerações Y e Z. Segundo os nascidos entre 1995 e 2010 (geração Y), quase todas as características que marcaram a anterior (geração Z ou Millennials) eram cringe, ou seja, “vergonha alheia”. Falar sobre contas e boletos, tomar café, assistir Harry Potter ou (pasmem) usar pontuação na internet são alguns exemplos do que os jovens consideram vergonhoso hoje em dia.

Mas se algumas coisas se perderam entre as gerações, outras, pode-se dizer, que envelheceram como vinho. Um exemplo? As molecagens do Menino Maluquinho, personagem criado pelo cartunista mineiro Ziraldo, em 1980, e que segue encantando as crianças de todo o Brasil por mais de 40 anos. A história do menino que tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés acabou de ganhar mais uma adaptação cinematográfica, dessa vez pela Netflix, uma das empresas de streaming mais populares entre os brasileiros.

Quanto ao seu criador, o Ziraldo, segue tão atual quanto sua obra. O cartunista, chargista, escritor, dramaturgo, humorista, poeta, pintor, desenhista e jornalista publicou seu primeiro desenho aos seis anos, no jornal Folha de Minas, e hoje, aos 90 anos, é referência para novas gerações de cartunistas.

Nascido em 24 de outubro de 1932, em Caratinga, interior de Minas Gerais, Ziraldo sempre mostrou seu talento para as artes. Embora formado em Direito pela Universidade Federal de Minas (UFMG), sua atuação sempre foi nos jornais e revistas brasileiras. E 1954, começou a trabalhar no jornal Folha da Manhã; em 1957, mesmo ano de sua formatura na UFMG, passou a escrever para a revista O Cruzeiro e em 1960, publicou sua primeira história em quadrinhos, A Turma do Pererê, que, anos mais tarde, também ganhou adaptações para a televisão.

O criador de personagens como “Jeremias, O Bom e A Supermãe” promove em suas obras o respeito pelas diferenças, pela preservação da natureza, cidadania, saúde, companheirismo e vários temas relevantes à infância. Mas como nem tudo são flores, o escritor apresenta divergências em sua política de respeito ao próximo. Em 2015, Ziraldo se colocou contra a representação de homossexuais na televisão brasileira, dando “chance aos homossexuais de assumirem a sexualidade deles”. Um homem com posicionamentos tão claros em relação ao respeito às diferenças, torna-se incoerente ao proferir falas desrespeitosas a um grupo já tão marginalizado em nossa sociedade.

Mas o que não se pode negar é que Ziraldo teve e ainda tem grande influência na literatura infantil. Autor de Flicts (1969) e Uma Professora Muito Maluquinha (1995), é vencedor do Prêmio Nobel Internacional de Humor, em 1969, e do Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria infantil, de 1980. Durante a crise sanitária decorrente do COVID-19, Ziraldo, através de suas tirinhas, conscientizou seu público acerca dos cuidados a serem tomados durante a pandemia e sobre a importância da vacina.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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