Ninguém vai poder, querer nos dizer como amar

“Eles não vão vencer

Baby, nada há de ser em vão”

Amar é um direito de todos! Mas para alguns é uma luta árdua e cotidiana, às vezes enfrentada com medo, com dor, com garra e sempre com orgulho. No dicionário, “orgulho” significa o “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra”. Para uma parte da população, que é perseguida, ridicularizada e assassinada pelo simples fato de amar, celebrar o amor um dia, um mês ou a vida inteira é sim motivo de muito orgulho.

A história do movimento LGBTQIAPN+ é torneada pelo silenciamento, marginalização e perseguição da comunidade. Ainda hoje há quem questione as razões pelas quais se celebra o dia/mês do orgulho LGBT e não há comemoração do “orgulho hétero”. Pois bem, a resposta mais óbvia é o fato de que ser hétero não implica na retirada de nenhum direito, nenhum perigo à vida, nem qualquer tipo de censura ou vexação desses indivíduos. Mas para alguns, principalmente aqueles que se orgulham de “procriar e povoar a terra”, compreender a importância (e desgaste) de viver lutando pela própria existência e liberdade é uma tarefa árdua e muitas vezes impossível.

“Um novo tempo há de vencer

Pra que a gente possa florescer

E, baby, amar, amar sem temer”

É por essas pessoas, e também por aquelas que sonham em um dia, amar sem temer, que proponho um breve passeio à história do movimento LGBTQIAPN+ e suas conquistas. Aos sensíveis, aviso logo que as linhas que se seguem estarão repletas de força, resistência, representatividade e, principalmente, orgulho!

Um dos principais marcos da historiografia da comunidade LGBTQIAPN+ foi a Revolta de Stonewall, acontecida em 28 de junho de 1969, nos Estados Unidos, quando frequentadores do bar Stonewall Inn se rebelaram contra as violentas batidas policiais ao estabelecimento, um dos poucos lugares seguros para pessoas LGBTs, numa época em que não ser heterossexual era crime. A reação de Stonewall resultou numa série de manifestações pelos direitos da comunidade LGBT, às quais se destacam Marsha P. Johnson, mulher trans que ajudou a fundar a Frente de Liberação Gay; Sylvia Ribeira e Stormé Delaverie, conhecida como guardiã das lésbicas e a primeira a reagir à repressão policial, o estopim para a revolta do restante da multidão.

Em 1970, 10 mil pessoas se reuniram para comemorar o ano da revolta de Stonewall, iniciando as paradas LGBTQIAPN+ que acontecem anualmente, todo mês de junho, em várias partes do planeta, destaque para a de São Paulo, considerada a maior do mundo. A data também foi definida como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+.

No mesmo período, o Brasil vivia uma realidade similar à de Stonewall. Em 1969, a Ditadura Militar estava em seu auge e a perseguição de pessoas LGBTs pelo Estado estava incluída na lista de prisões, torturas e assassinatos. Mas, ainda que numa época de repressão, a comunidade criou os próprios espaços de resistência, como o jornal O Lampião da Esquinae o boletim Chama com Chama, ambos trouxeram à luz debates sobre sexualidade, identidades e direitos da comunidade LGBTQIAPN+.

A partir da década de 1970, começaram a surgir os primeiros grupos de movimentos de gays e lésbicas, aos quais se destacam o “Grupo Somos”, fundado em 1978, e o “Grupo Gay da Bahia”, de 1980, que documentou e divulgou casos de violência e assassinatos de pessoas LGBTs. Ainda na década de 80, além das repressões do Estado, a comunidade LGBTQIAPN+ foi assombrada por outro desafio, a luta contra a AIDS e a discriminação trazida pela doença.

E, falando nisso, foi só em 1985 que a homossexualidade deixou se ser tratada como doença no Brasil, quando foi publicada uma nova edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). E na lista dos direitos conquistados pelas pessoas LGBTs, destaco o direito ao casamento civil, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, em 2013, que, em 2018, também reconheceu o direito a pessoas trans de alterarem seus nomes no registro civil, independente da realização da cirurgia de redesignação sexual.

Mas apesar dos avanços e conquistas do movimento LGBTQIAPN+, a vivência dessas pessoas ainda está longe de ser ideal. Se, na década de 70, a escritora Cassandra Rios teve diversas obras censuradas por abordar o amor homoafetivo entre mulheres, 2023, os beijos de duas mulheres e outros casais homoafetivos enfrentam uma onda de censura similar nas novelas do canal de maior audiência do país. O que mudou? A comunidade não está mais disposta a ser silenciada, enganada, nem a receber migalhas de representatividade. Esta luta é pelo direito de amar e ser amado.

Afinal, amar é um direito de todos! A poeta Elayne Baeta já disse que o amor não é óbvio e que está substituindo por coragem, todo o seu medo de amar; já a cantora Liniker avisou que “amar é pra se corrigir e não perder a paz”. Elizabeth Bishop acreditava que o “amor dorme”. Por aqui concordamos com toda e, como disse Lulu Santos, “consideramos justa toda forma de amor”, porque “NINGUÉM VAI PODER, QUERER NOS DIZER COMO AMAR”!

Feliz Dia do Orgulho!

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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