O homem de blusão preto

Estava ali pensando no ovo, triângulo, bola, basquete, vôlei e tantas outras coisas que apareceram justamente naquele momento. Olhar atento, na verdade, perdido no horizonte. Minha mão em silêncio, apalpava o seu corpo numa massagem lenta, como se tivesse cuidado com as feridas abertas que só a alma podia enxergar. Ele se mantinha em águas salgadas, corpo encolhido, cabeça em direção aos pés, enquanto, firme, acolhia o seu corpo e passeava minhas mãos. Sua cabeça próxima aos meus seios era apenas almofada para amortecer a sua dor.

Passamos a manhã juntos. Poucas palavras, o silêncio já falava demais. A sala estava movimentada, hora e outra chegava alguém. Ele nem bebeu a água açucarada no copo de alumínio. Apenas, abraçava sem saber os motivos do seu desmanche. Abraçava, massageava e não pedia explicações. O silêncio fazia oração, dizem que orar é ato silencioso. Não queria atrapalhar.

Depois, estava em casa, sem saber o que era aquilo. Era tanto silêncio que sai perturbada. Abri as janelas para entrar luz e vento. Fiquei pensando como ele estava, só sei que não estava mais no mesmo lugar. Fui escutar Maria Bethânia sua “carta de amor” dizendo “Não mexe comigo que eu não ando só”.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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