Close: um filme para sentir

Close é um drama belga no estilo coming of age, ou seja, está voltado para o período da juventude e seus dramas. Dirigido e roteirizado por Lukas Dhont, o longa-metragem é baseado em suas histórias pessoais. O trabalho é o segundo grande sucesso do diretor, tendo lançado Grill em 2018.

O filme conseguiu me transpor para a cena, graças a trilha sonora e o movimento de câmera. Começa com Remir (Gustav De Waele) e o seu melhor amigo Leo (Eden Dambrine) brincando em uma fortaleza criada em suas imaginações. Em seguida, os dois correm por um lindo campo de rosas, enquanto no segundo plano são apresentados outros personagens da história. Nesse início há a sensação de uma infância ingênua, sendo logo evidenciado a relação de proximidade dos personagens.

A principal característica de Close é um ângulo fechado, que evidencia as expressões dos atores. Tal recurso é super importante para a dramaticidade. Os dois amigos dormem juntos na mesma cama, na primeira cena no quarto Leo toca seu instrumento musical e Remir o admira com um olhar afetuoso. Os sorrisos e as trocas de olhares, após a música tocada, dão uma sensação gostosa, como se por um momento eu fosse convidado a participar do momento..

A narrativa segue e fica claro a proposta do filme de estimular boas sensações e lembranças de infância. Na maioria das obras cinematográficas a história é conduzida com diálogos impactantes. Close diz muito mais no silêncio entre uma fala e outra. Faz despertar sentimentos parecidos com o dos personagens, e provoca uma dor interna ao vermos que a inocência retratada, some em nós com a “maturidade” e a pressão social. A sensação de liberdade dos dois ao ir para escola pedalando juntos, contrasta com a coação dos sentimentos que a sociedade faz.

Na intimidade os dois são felizes, só que de repente chega o momento de os dois enfrentarem numa nova fase escolar, aquela mesmo… A melhor para alguns, a pior para outros. E é genial a chegada no colégio, os dois sorridentes e a câmera vai se distanciando. Mais uma vez o filme desperta uma nostalgia, aquele caos no intervalo da escola e da diversão pré-adolescência. Essa cena é como um divisor na relação dos dois.

Como diria o filósofo Michel Foucault, a escola é uma “instituição de sequestro” que molda o comportamento. A amizade verdadeira e a proximidade física são vistas como “anormais”, levando a um comentário que desestabilizou Leo. “Vocês estão juntos?”. Vendo o filme, acredito que nenhum dos amigos tinham feito este questionamento antes. E a resposta do menino para o questionamento pode levar a grandes reflexões sobre as estruturas da sociedade. “Eu posso dizer o mesmo sobre você porque vocês fazem tudo juntas.” Culturalmente as meninas constroem amizades mais profundas, enquanto qualquer contato afetuoso de dois garotos é “condenável” e abre margem para questionamentos sobre sua masculinidade.

Sobre o autor:

Renato Mendes

Estudante de jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e orientador escolar.

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