A mulher na Literatura de Cordel

Desde os primórdios, o pretenso privilégio biológico colocou os sexos masculino e feminino em posições desiguais. Ao homem, coube o espaço público; à mulher, o privado.

A naturalização do papel secundário da mulher deixou-a longe dos bancos escolares e acadêmicos ocultando sua participação em todas as áreas do conhecimento, destaque, aqui, para a Literatura de Cordel.


O Cordel é, antes de tudo, fruto da oralidade tendo a métrica, o ritmo e a rima como elementos de sua constituição. Para além de um gênero literário, é um ofício e um meio de sobrevivência para artistas que se identificam com esse tipo de arte.


É importante destacar que o Cordel foi trazido pelos colonizadores portugueses para o Brasil ainda nos séculos XVI e XVII. Inicialmente esse tipo de literatura foi produzido no Nordeste e, depois, se espalhou pelo Brasil.


Antes mesmo do jornal e da televisão, o Cordel cumpria a missão de informar e divertir a população que não tinha acesso à educação formal. Através dele, muitas pessoas aprenderam a ler ou memorizavam suas histórias e passavam de geração em geração.

O certo é que o Cordel sempre foi considerado uma “literatura menor” dada à sua linguagem coloquial e o seu processo de popularização entre as camadas menos abastadas da sociedade. Isso fica muito claro, quando os críticos o descrevem com um status diferente da poesia ou do romance.


Por esse motivo, o Cordel foi rechaçado por todos aqueles que defendem uma literatura elitista, isto é, uma literatura feita pela burguesia para a burguesia para marcar a superioridade de uma classe social. Não é à toa que, no Brasil, livro é considerado um artefato caro e excludente. No entanto, colocar o Cordel à margem só serviu para fortalecer a luta dos cordelistas para sua legitimação enquanto um gênero literário.


No ano de 2018, a Literatura de Cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esse fato abre novas possibilidades para que esse tipo de narrativa possa chegar mais facilmente às escolas.

E as mulheres em toda essa história? Elas sempre estiveram presente na Literatura de Cordel, seja na condição esposa/mãe, seja como encantadora de serpentes, ou seja, raramente escaparam da visão estereotipada concebida pelos homens. Para vocês terem uma ideia, somente em 1938, uma mulher publica um Cordel, Maria das Neves Batista Pimentel, sob um pseudônimo masculino – Altino Alagoano.


No início do século XX, aqui no Brasil, uma mulher desenvolver uma atividade intelectual era sinônimo de transgressão, logo, deveria ser rechaçada pela sociedade. Usar um pseudônimo tinha um duplo objetivo: proteger a reputação daquela mulher, mas, sobretudo, garantir que o texto seria lido. Afinal, não é para isso que se escreve?


Em 1991, um grupo de poetas, com destaque para o radialista e folclorista Elói Teles de Morais, preocupados com o desaparecimento dos folhetos, fundou a Academia dos Cordelistas do Crato (ACC), que, depois de 30 anos, em 2021, teve sua primeira presidenta, Anilda Figueiredo.

Destaque para a presença feminina na instituição: Bastinha Job, Chica Emílio, Fátima Correia, Mana Romualdo, Francy Freire, Nezite Alencar, Rosário Lustosa e Josenir Lacerda com mais de setenta textos publicados. Independentemente da área, as mulheres têm conquistado seu espaço, sobretudo, o seu espaço de direito na literatura.


De modo geral, os folhetos de cordel têm garantido a valorização da cultura popular, disseminado informação e suscitado o debate das mais diferentes temáticas abordadas. Contudo, faz-se necessário ampliar os espaços para uma poética ímpar.

Sobre a autora:

Luciana Bessa Silva

Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler

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