Há dois anos, O Blog Literário Nordestinados a Ler foi convidado por Francisco
Nascimento para fazer um programa na Web Rádio Cafundó, cuja programação é
voltada para o fortalecimento da cultura e dos movimentos sociais, assim como
para os Direitos Humanos.
Confesso que minha primeira reação foi perguntar: “Como assim?”, “Falar
sobre Literatura em uma rádio?”. Esse estranhamento se deu, porque sou de
uma geração que escutava rádio com uma fita cassete na mão, pronta para
gravar músicas em inglês com a tradução do locutor.
Nunca escutei um programa de rádio que tivesse a literatura como foco. Mas
como sou movida a desafios, já dizia Sócrates “Uma vida sem desafios não
vale a pena ser vivida”, aceitei a provocação literária, afinal, o poeta gauche
Carlos Drummond de Andrade ensinou-me que: “Lutar com palavras / parece
sem fruto. / Não têm carne e sangue…/ Entretanto, luto”.
Nessa jornada, encontrei outras três mulheres, Shirley Pinheiro, Bruna Nergino
e Letícia Isabelle que decidiram somar à minha voz, as suas. Formado o
quarteto fantástico das “nordestinadas a ler”, escolhida as escritoras (es),
cantoras (es) e temáticas voltadas à cultura, somamos 100 (cem) programas
na Rádio Cafundó, todos os sábados, das 17:00h às 17:30h.
O que posso dizer diante dessa marca de cem programas literários? A primeira
coisa a ser dita é: Gratidão ao idealizador da Rádio Cafundó, Francisco
Nascimento, por acreditar no poder da Literatura, essa arte que transforma e
humaniza. O que seria de nós sem as descrições de José de Alencar? Ou
mesmo sem o humor seco de Machado de Assis? Sem os versos que exaltam
nossa pátria de Gonçalves Dias? Ou os do poeta pernambucano Manoel
Bandeira, que imortalizou Recife e o Rio Capibaribe? O que dizer das
narrativas intimistas de Clarice Lispector? Sem escutar as histórias de Ruth
Rocha, como cresceriam nossas crianças? Como não ter a representação do
nordeste nas obras de Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins Rego?
Como viver sem o mito em Grande Serão: Veredas, de Guimarães Rosa?
A segunda coisa a ser posta é: não é fácil fazer um programa de literatura
semanal, ou mesmo manter um Blog literário. Vimemos em país que as
livrarias fecham suas portas, como foi o caso recentemente da Livraria Cultura.
Como se não bastasse, entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu ao menos 764
bibliotecas públicas, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas
Públicas (SNBP). Tem ainda o fato da diminuição do número de leitores (4,6%
bilhões em 4 anos), segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2019),
com o apogeu da internet e as redes sociais.
Diante dessas e outras pedras no caminho, termino o texto, mas continuo
nessa caminhada ao lado das minhas companheiras, Shirley Pinheiro, Bruna
Nergino e Letícia Isabelle, com a missão de trazer à tona a história de tantas
mulheres esquecidas pela memória de alguns brasileiros. A expectativa é que
a próxima geração não se esqueça desse quarteto fantástico de nordestinadas,
que todos os sábados estão na Rádio Cafundó e que elegeram a literatura e a
mulher-escritora como pautas de luta. Acreditamos que cada vez que lemos ou
que exaltamos uma mulher, damo-nos a oportunidade de (re)contar a História.
Sobre a autora:
Luciana Bessa Silva
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler