Assassinam a minha mãe

Disseram que mãe queria me matar. Acredito que seja verdade e estou do lado dela. Nasci prematuro, quase não vingava na vida. Prematura foi mãe e pai. Ela, 15 anos e ele, 14. Parece que nesta idade, a gente não acredita muito que é capaz brotar vidas. Na verdade, desde cedo, nos ensinam a não acreditar em muita coisa, principalmente em nós mesmos.

Fui jogado no mundo, sem muita opção. A casa de vó foi morada dos medos, das inseguranças, da certeza que não podia gritar por pai e mãe. Vó era briguenta, mas tinha um almoço bom e me levava ao médico.

Pai e mãe saíram pelo mundo tentando conseguir algumas fatias para sobreviver, depois voltaram, com menos fatias do que esperavam. Ainda senti raros sorrisos e afagos. Pouco tempo, logo, se desfizeram: o amor é isso, uma inconstância.

A casa de vó é grande. O meu quarto é o melhor lugar, o meu coração é apertado. Escuto vozes querendo me abortar da minha mãe, enquanto aprendo a andar.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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