Cássia Eller: uma voz sempre viva

Cantora e compositora, Cássia Eller, uma das maiores vozes do rock brasileiro da década de 1990, foi considerada pela revista Rolling Stone Brasil, como a 18ª voz de sua época.

E que voz! Uma rouquidão potente que foi sendo lapidada com o tempo e que não deixou de ecoar mesmo depois de sua partida, no dia 29 de dezembro de 2001.

Dona de um Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock pelo Acústico MTV (2001), com mais de um milhão de cópias vendidas, três canções desse projeto continuam marcando gerações de jovens-adultos: “Malandragem”, “Por Enquanto” e “O Segundo Sol”.

“Malandragem”, por exemplo, escrita em 1985, é uma mistura da sensibilidade do Cazuza e da energia do Frejat (Barão Vermelho), que traz à tona a esperteza e a astúcia diante das adversidades que a vida nos impõe. Além do mais, um de seus versos “Quem sabe o príncipe virou um chato/ Que vive dando no meu saco”, subverte a ordem dos contos de fadas que foram lidos para nós mulheres, em que beijando um sapo, encontraríamos nosso príncipe encantado. Cássia Eller levanta a possibilidade (hoje real) de que o príncipe se torna um chato acabando com idealizações passadas.

Parece que os sapos são uma constante nas músicas dessa artista para quem literalmente colocou as mãos na massa para conseguir um lugar ao sol: “”Fiz massa e assentei tijolo”, contava Cássia em suas entrevistas. Na música “Otário”, o príncipe-sapo também se torna um babaca, que reconhece que não soube amar a mulher amada, por isso paga sua babaquice engolindo sapos, ou seja, sendo solitário, sem conhecer a arte de amar, e um homem que não conhece o amor não pode dizer que é um sujeito completo.

Sozinha, Cássia Eller era um redemoinho musical. Acompanhada dos amigos-parceiros, era um furacão. De Renato Russo, ela gravou “Por enquanto” e “1º de Julho”, presente do amigo quando ela estava grávida de oito meses de seu filho Chicão.

A fertilidade da música de Cássia Eller foi cristalizada no próprio nome do filho. Ela escutou “Francisco”, música instrumental de Milton Nascimento, e por ela foi transpassada.

Ela gravou a composição como participação especial no disco do guitarrista Nelson Faria, Ioiô, em 1993, e tempos depois contou a Milton que o nome de seu filho foi escolhido depois de ser invadida por uma força chamada “Francisco”. Ela gravou, ainda, canções de: Caetano Veloso, Rita Lee, Riachão, Arrigo Barnabé, Wally Salomão, Luiz Melodia, Marisa Monte, Chico Buarque, Ana Carolina, que tem um show chamado “Ana canta Cássia”, e Nando Reis.

Os dois (Nando e Cássia) se conheceram na casa de uma amiga em comum, Marisa Monte. A música All Star, por exemplo, é um presente dado à Cássia pelo ex-integrante dos Titãs. Dizem que até hoje ele guarda o sapato como forma de ter Cássia perto de si. Já a música “Segundo Sol”, Nando compôs para um de seus discos, mas quando apresentou para a amiga, ela ficou apaixonada: “Mostrei para ela e disse que ia roubar. O melhor roubo que já recebi, a música estourou com ela”, conta Nando Reis.

Além dos roubos, também houve pedidos. Cássia Eller pediu ao Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr, que compusesse uma canção para ela. Ele escreveu “O Dom, a Inteligência e a Voz”. Quando a música ficou pronta, Cássia já havia falecido. Contudo, a música se encontra no álbum de 2009 do Charlie Brown Jr., “Camisa 10 Joga Bola até na Chuva”.

Intensidade e autenticidade são marcas de Cássia Eller que, através da música, nos deixou alguns pensamentos-poemas reflexivos: “Mas nada vai conseguir mudar o que ficou…” (Por enquanto); “Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar…” (Palavras ao vento); “Já que não me entendes. . ./ não me julgues, não me tentes” (1º de julho); “Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida…” (Todo amor que houver nessa vida), etc.

Sobre a autora:

Luciana Bessa Silva

Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler

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