Primeiro degrau

Alexandre Lucas

Acordei com a almofada de lado e meus pensamentos circulando em tua boca. A lua iluminava as lembranças da noite que não saiu do primeiro degrau. Portas fechadas.  O desejo transbordando e a resistência costurando os limites.  Naquela noite bebemos um pouco de nós, colocamos as cartas na mesa e tentamos decifrar as linhas que se perdiam na tímida massagem. 

Deixei de reparar a lua, estava distante.  Os postes à meia-luz, o silêncio, a rua, a conjugação que nos abarcava. Seguimos de mãos dadas, tentando corresponder os passos. A poesia sussurrava, mas era preciso dar forma ao poema, entender a sua dimensão, o seu ritmo, mas a paixão, o amor e o sexo não cabem no poema. O poema é pequeno diante das noites e dos girassóis, das trovoadas e das ausências. Tem roseiras na estrada, roseiras são roseiras. Confusas ideias sobre permanecer e voar pintam as nuvens. 

Guardo o decote da noite, o mesmo decote da primeira estação. Faz sol, as estrelas se aproximam e tua boca tem poder. Embaralho, embrulho e abro a conexão com a delicadeza que deve ser o parto que sempre anuncia medo e alegria. 

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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