Quase acordo os chineses

Alexandre Lucas

A cama guarda o cheiro das tuas flores. A taça de vinho continua em cima do baú que nos resistiu, ainda restam três dedos de vinho seco. Despejei um dedo para te escrever. As lembranças vão caindo, como tua roupa justa. Teu corpo nu espalhado sobre o meu. Belchior cantando baixinho, nós, tocando outras canções. 

Você estava molhada de palavras. Escrevia com o dedo médio tuas contorções. Tua boca de puras verdades professava vontades. Procurava a nervura teus lábios para compor os teus gemidos. 

As luzes acesas. Os beijos mordidos desligando os pudores. O cuidado para abanar os sonhos e amaciar a carne.   

No banho, deslizo nas tuas costas:  cheiro e massagem. Entro entre tuas pétalas e toco as estrelas, aperto seus seios e quase acordo com os chineses, quase.        

Isso é bruxaria, penso na sacada, tentando avistar a sua volta. No caldeirão vejo o seu bilhete vivo, dizendo: Queria você me beijando, mordendo meu pescoço, tirando minha roupa. Isso não era delírio. 

Sobre o autor:

Alexandre Lucas

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.

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