Em 80 anos de vida e mais de meio século de carreira, Caetano Veloso se consagrou como um dos músicos e compositores mais influentes da Música Popular Brasileira. Nascido em 7 de agosto de 1942, em Santo Amaro, na Bahia, Veloso coleciona letras dotadas de poesias, críticas sociais e referências poéticas, que se mantém atuais, bem como seu criador.
“Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram, vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis”
(Anjos Tronchos, 2021)
Um apaixonado pela arte de cantar, a música sempre esteve presente em sua vida. Aos três anos sugeriu que a irmã mais nova fosse batizada como Maria Bethânia, em referência à canção homônima, interpretada por Nelson Gonçalves, que, ao lado de Vicente Celestino, Luiz Gonzaga, Francisco Alves, Cido Caldas, Orlando Silva e João Gilberto, compuseram o grupo de cantores que mais influenciaram o início da carreira artística de Caetano Veloso. Aos nove anos de idade, o baiano compôs sua primeira música, quando tudo para ele se resumia à nota “DÓ“.
Mas nem tudo foram flores, sua adolescência foi marcada por deslizes, garoto cheio de rebeldia, chegou até a repetir de ano na escola. Nesse período, Caetano Veloso morou por um ano no Rio de Janeiro, na casa de uma tia. Contudo, sua mudança definitiva para a capital carioca foi em 1965, como acompanhante da sua irmã, Maria Bethânia, que foi convidado para estrelar o espetáculo Opinião, substituindo a cantora Nara Leão.
Foi ao lado de Bethânia que Caetano consolidou-se no cenário musical brasileiro do século XX. A cantora foi responsável por impulsionar as carreiras de seu irmão e de dois outros baianos muito amados pelos brasileiros: Gal Costa e Gilberto Gil. Juntos os quatro se tornaram queridinhos do público “sudestino” e, mais tarde, reuniram-se novamente como os Doces Bárbaros, em uma turnê para comemorar os dez anos de sucesso de cada um.
Ao lado de Gil e outros artistas da época, Caetano lançou um novo olhar às formas de pensar a Música Popular Brasileira. Para ele a música na época “devia ter uma pegada mais vital e mais violenta […]. E não ser apenas uma atitude defensiva do ponto de vista cultural e queixosa do ponto de vista político”. Foi a partir desse pensamento que surgiu o Tropicalismo, um movimento que rompeu com os moldes de cultura na época — “Eu inauguro o monumento no planalto central do país”.
A primeira prisão de Caetano no período ditatorial, se deu por uma “fake news”. Acusados por proferir supostas ofensas à bandeira e ao hino nacional, Gil e Caetano passaram dois anos e meio exilados em Londres. Na capital britânica, os músicos conseguem gravar alguns discos, (Caetano lança dois álbuns, e Gil, um), por iniciativa de um inglês, encantado com os trabalhos dos dois.
Em 1976, Caetano, Gal, Gil e Bethânia se reúnem novamente para cantar e produzir novas músicas. O retorno do grupo se deu a partir de um sonho de Maria Bethânia. Na época, as canções eram caracterizadas por uma forte ligação com a mitologia do candomblé. A década de 80, marcada pela recuperação democrática do Brasil, aparece como um período de esperança, de novos ares, com o fim da ditadura militar. Na canção Nu Com A Minha Música, Caetano diz ver uma trilha clara para o Brasil, apesar da dor, uma representação da expectativa de dias melhores.
“Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor
Vertigem visionária que não carece de seguidor
Nu com a minha música afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou”
(Nu Com A Minha Música, 1986)
Veloso acumula uma lista enorme de parcerias com artistas de diversas áreas e estilos musicais, nomes como Anitta, Ivete Sangalo, Maria Gadú, Iza, Chico Buarque, João Gilberto e até mesmo o grupo musical infantil Mundo Bita estrelam essa lista. Em seu último álbum, Veloso fez questão de homenagear outros artistas da música brasileira. Na música Sem Samba não Dá ele cita Anavitória, Mar(av)ília Mendonça, Maiara e Maraisa, Gloria Groove, Baco Exú do Blues, Duda Beat, dentre outros, alguns nomes consagrados ou em ascensão no âmbito musical.
“Vem de Pixinguinha a Jorge Ben
Pousa em Djavans
Wilson Batista, Jorge Veiga
Carlos Lyra e o imenso Milton Nascimento
Vem de Pixinguinha a Jorge Ben”
(GilGal, 2021)
Caetano Veloso é cantor e compositor de canções que marcaram a vida de muitas gerações. Dentre suas composições mais conhecidas estão Oração ao Tempo — “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho… Tempo tempo tempo tempo, vou te fazer um pedido…”; Você é linda — “Você é linda, mais que demais. Você é linda sim. Onda do mar, do amor, que bateu em mim”; Reconvexo, que ele fez para Maria Bethânia — “Eu sou a flor da primeira música, a mais velha, mais nova espada e seu corte”. E em seu aniversário de 80 anos, que possamos “Caetanear”.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.