O Legado de Gonçalves Dias

Um dos maiores poetas da primeira geração do Romantismo brasileiro, Gonçalves Dias nasceu no dia 10 de agosto de 1823. O maranhense, da cidade de Caxias, foi jornalista, etnográfico, teatrólogo e advogado. Mas o seu maior legado foi a poesia.

Responsável pela consolidação do Movimento Romântico do Brasil, Gonçalves Dias é o autor de um dos poemas mais parafraseados, citados e parodiados da literatura nacional. A Canção do Exílio foi publicada pela primeira vez em 1846, mas foi escrita três anos antes, em 1843, quando Dias estava em Coimbra. Em seus versos, a poesia destaca as qualidades nacionais, exaltando suas características em tom de saudosismo, a voz de um eu lírico que, assim como seu autor, encontra-se distante de sua terra

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o Sabiá,

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

[…]

(Canção do Exílio, 1846)

O Romantismo foi um movimento surgido na Europa ainda no século XVIII, que abrangeu as áreas artística, filosófica e poética, se opondo ao Iluminismo, que valorizava o racionalismo em detrimento à emoção. No Brasil, o movimento se caracterizou pela valorização dos elementos nacionais, o sentimentalismo exacerbado e imagens nacionalistas.

Os Românticos brasileiros tiveram nítida consciência de seu papel de definir o nacionalismo literário brasileiro. A natureza e o homem, a preocupação com o idioma nacional, a luta pela abolição da escravatura e o indianismo foram temas que marcaram o período. O herói brasileiro era o indígena construído nos moldes dos heróis de cavalaria europeus: romântico, digno e altivo.

Na obra do escritor cearense José de Alencar, destaca-se o indígena Peri, do livro O Guarani. Já na poesia de Gonçalves Dias, a figura de I-Juca Pirama é referência nos estudos da primeira fase do Romantismo. A história do guerreiro indígena capturado por uma tribo antropofágica e sua trajetória de honra e coragem se repete nas aulas de literatura nas escolas e universidades de Letras e se consolida na memória dos leitores em formação.

Meu canto de morte,

Guerreiros ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros ouvi

[…]

(I-Juca Pirama, 1851)

Patrono da cadeira n° 15 da Academia Brasileira de Letras (ABL), Gonçalves Dias escreveu poemas de amor inspirados pela paixão que sentia pela jovem Ana Amélia Ferreira do Vale, um amor que não vingou por conta da não aceitação da família da moça, que não permitiria que ela se casasse com mestiço — filho de um comerciante português e uma  mestiça. Tal sofrimento lhe rendeu poemas como “Se Se Morre De Amor“, uma poesia dolorida e encantadora.

A obra de Gonçalves Dias é extensa e diversa, feita para fascinar e encantar o leitor “que embelezada e solta em tal ambiente, do que ouve e no que vê, prazer alcança“.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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