O legado poético de Paulo Leminski

Shirley Pinheiro

“Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,

Preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

E as estrelas lá no céu

Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?”

(Razão de ser)

Escritor multifacetado, Paulo Leminski nasceu em 24 de agosto de 1944, em Curitiba, a capital paranaense. Autor de uma obra bem diversa, foi poeta, tradutor, jornalista, crítico literário, professor e músico, com poemas gravados por  Caetano Veloso, Gilberto Gil, Guilherme Arantes, dentre outros.

Leminski adotou, em sua escrita, particularidades específicas que o tornaram um dos autores mais expressivos de sua geração. O uso de trocadilhos (“Tudo dito, nada feito, fito e deito”); gírias, paráfrases de ditados e frases populares (Salve-se quem quiser, perca-se quem puder!) se tornaram característica de Paulo Leminski, principalmente pelo fato de que uma de suas artes mais praticadas foi a escrita de haikais,  forma curta de poesia japonesa.

 “Ameixas.

Ame-as

ou deixe-as.”

O desejo de seu pai era que Leminski seguisse carreira militar, em contrapartida, o filho queria ser monge, com 12 anos, entrou para o Mosteiro de São Bento, na capital paulista, onde aprendeu latim, teologia, filosofia e literatura clássica. Mas não demorou muito para perceber que a arte poética era o destino a ele reservado. Em 1964, publicou seu primeiro poema e uma década depois publicou aquela que viria a ser uma de suas obras mais conhecidas: Catatau (1975), um livro de linguagem difícil e densa, cheio de referências da cultura, da filosofia e até de notícias da época, que demorou oito anos para ser escrito.

Leminski foi casado (pela segunda vez) com outra poeta muito conhecida no cenário literário, a curitibana Alice Ruiz, com quem, em 1985, escreveu Hai Tropikai — “Presente de Vênus/ Primeira estrela que vejo/ Satisfaça o meu desejo”. Autor das biografias de Matsuo Bashō, Cruz e Sousa, Leon Trotski e Jesus Cristo, ele também traduziu autores como Alfred Jarry, John Fante, e Samuel Beckett.

Paulo Leminski morreu jovem, aos 44 anos, vítima de uma cirrose hepática duradoura que agravou nos estágios finais, e deixou para trás um legado poético difuso e marcante.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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