Ana Miranda: uma brava mulher da terra da luz

Shirley Pinheiro

De Alencar a Belchior, de Patativa a seu Lunga, de Espedito Seleiro a Juvenal Galeno, o Ceará é o berço de grandes nomes da cultura e da memória nacional. Da “nata do lixo, do luxo da aldeia”, a terra da luz é o lar de bravas mulheres — Rachel de Queiroz, Bárbara de Alencar, Maria da Penha, Jovita Feitosa e Ana Miranda, esta última, atualmente se configura como uma das principais escritoras das literaturas cearense e brasileira.

Nascida em 19 de agosto de 1951, Ana Miranda é escritora, poeta, artista, cronista e romancista. Com mais de 40 anos de carreira, ela é dona de uma vasta obra, com mais de 30 títulos, que transitam entre romances, prosas, poesias e livros infantis.

Ana Miranda começou a escrever ainda na infância. Desde cedo colecionava poesias, cadernos de sonhos, diários ficcionais, todos ilustrados por ela, algo que se tornou característico na sua produção literária. Sua primeira publicação foi uma insistência dos amigos, em 1978, com a obra poética Anjos e Demônios, ao que ela afirmava “eu não queria publicar, os poemas eram imaturos, insatisfatórios, mas aquilo me fez bem, deu-me um sentimento de realização”.

Uma década depois, Ana Miranda estreia como romancista, com a publicação de Boca do Inferno (1989), uma ficção-histórica, que narra acontecimentos das vidas do poeta Gregório de Matos e do jesuíta Antônio Vieira na Bahia no período colonial. Vencedora do Prêmio Jabuti de 1990 na categoria “Revelação de Romance”, a obra foi considerada como o iniciador do novo romance histórico brasileiro, estilo adotado por Miranda várias outras vezes — Dias e Dias (2002); Semíramis (2014); Xica da Silva, A Cinderela Negra (2016).

Apaixonada pela língua e pelas palavras, Ana Miranda, viveu muito tempo em Brasília, mas, anos depois, o seu retorno à “terra de Alencar” e o choque inicial com a cultura a qual esteve distante lhe renderam uma literatura mais intimista, com cenários reais e reconhecíveis pelos leitores cearenses. Em muitas de suas crônicas, Ana Miranda registrou as características culturais de seu povo, bem como as comidas típicas; a linguagem e os dialetos — “fiquei fascinada com a perspectiva de conhecer novas expressões e palavras. Ia dar vasto material para a minha literatura. Passei a anotá-las. Hoje tenho alguns caderninhos só com essas falas escutadas aqui e acolá” (O Cearensês, 2016); o crescimento das cidades — “fico imaginando é que Aquiraz vai se juntar a Fortaleza, assim como se juntaram Crato e Juazeiro do Norte. […] As construções de condomínios de luxo tomam quase toda a costa e, por dentro, na rodovia, aparecem novas empresas ou grandes lojas de venda de carro, supermercados atacadistas, shopping centers, madeireiras… Aos poucos, estou me mudando para uma cidade grande, sem sair da cidade pequena” (Pujança de Fortaleza, 2016) e várias figuras reais e fictícias — Moacyr Scliar; José Albano, Iracema.

Ler Ana Miranda é deparar-se com a versatilidade da história brasileira, com o talento de uma mulher que faz da palavra a sua arte e da arte um prazer.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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