Entrevista com Natália Pinheiro

1  Você declarou em um livreto de poemas que Natália Pinheiro é “um ser imensidão”.  Explica melhor isso.

Então, isso é muito no sentido de que eu sou mais do que consigo dizer sobre mim e também de como eu me sinto. (Não em tamanho). É também sobre as partes de nós que trazemos ao se enunciar no mundo e a dificuldade de se definir. Eu sou tudo o que me marca nesse mundo, sou também tudo o que me perpassa, mas sou mais que isso, e é essa imensidão de eus que me forma da maneira mais inteira. 

2 Como é ser “imensa” em uma sociedade quer nos quer cada vez mais “minúscula”?

Desafiador e difícil. Porque a sociedade tenta a todo momento diminuir, podar, reduzir essa imensidão. 

3 Você além de militante do movimento negro, de integrante do Coletivo Camaradas, integra o SLAM DAS MINAS. Como aconteceu esse encontro da Natália e o Slam? 

Então, conheci esse movimento de poesia slam através do youtube. Sempre gostei de procurar vídeos de poesia e escutar.  Nessas pesquisas por vídeos acabei encontrando e mergulhando numa série de materiais com esse tipo de poesia e só depois conheci todo o movimento que era o Slam. A maioria desses vídeos trazia poetas e produções da região sudeste. Nesse período ainda não havia nenhum grupo de slam aqui no Cariri. A nível de Ceará, o mais próximo ainda era longe, ali pela região Norte e capital, o que tornava inviável que pudesse participar. Mas eu já começava a me encantar com essa poesia falada que me tocava e se mostrava cada vez mais próxima e só me encantei cada vez mais. Foi como se enxergar na poesia, nas poetas, na vida pulsante que envolvia todas essas poesias. No fim de 2018 um grupo de mulheres da região que já escreviam começaram a se juntar para formar o Slam das Minas Kariri e sabendo que eu também escrevia e vez ou outra participava das rodas de poesia no Coletivo Camaradas, me chamaram para formar e participar desse grupo com outras mulheres, foi quando pude experienciar essa poesia autoral e falada, me encorajar a partir de outras mulheres as quais nutro grande admiração. E esse momento foi um outro encontro. Que me possibilitou também encontrar e escutar uma parte de mim. 

4 Qual a sua relação com a leitura e, em especial, a poesia? Quais suas referências leitoras?

Minha relação com a leitura começa na infância e através da minha mãe que sempre lia pra mim e minha irmã. Ela lia histórias e textos que encontrava pelos livros. Além disso, tenho lembrança dela falar de versos e poesia no cotidiano. Poesias que ela lembrava e que gostava. Me falava com empolgação de Patativa e sempre mencionava as pedras de Drummond. 

Outra face da poesia, com o caráter mais da oralidade me foi chegando através do meu pai e avô, que gostavam de escutar repentistas. E eu me encantava por aquela poesia cantada.

Então diria que minha relação é sobretudo de afeto. E com o passar do tempo fui construindo mais relações. De luta, de estratégia de fala, de tentativa de continuar criando vida em meio ao caos.

5 Você tem dois livretos de poemas publicados. Fala dos seus livretos, onde podemos encontrá-lo?

Sim, são dois livretos lançados pelo Coletivo Camaradas. Misturando poemas mais curtos com poemas mais longos e com um pouquinho das imensidões que me formam. As poemas dos livretos estão espalhadas pelo mundo, algumas coisas se encontram também no instagram. 


6 Deixa uma mensagem para as leitoras/ os leitores do Nordestinados a Ler

Não se podem, diminuam ou reduzam por medo de no mundo não caber suas imensidões. Leiam e escrevam o que gostam e deixem o sentimento que tem dentro de vocês pulsarem e transbordarem.  Talvez o medo surja, mas somos maior que ele. E às vezes é preciso lembrar.

Abraços poéticos a todos.

Sobre a autora:

Natália Pinheiro

Natália Pinheiro é poeta, slammer, estudante de História, amante da poesia da vida, integrante do Coletivo Camaradas e Slam das Minas Kariri- espaços-experiências que atravessam a sua poética.

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