Um fabulista com nome de Rosa

Luciana Bessa

No dia 27 de junho de 1908, nascia o mineiro João Guimarães Rosa, médico, diplomata, romancista e contista; homem do sertão, narrador de estórias, um dos fabulistas mais representativos do século XX da Literatura Brasileira.

Trabalhador e inventor de palavras, Rosa acreditava que ao se estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas por divertimento, gosto e distração, seria possível compreender de forma mais profunda o idioma nacional. O autor de “Sagarana” (1946) falava mais de vinte línguas e bisbilhotou “um pouco a respeito de outras”.

Em 1963, foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras (ACL). Dizem que em suas viagens pelo sertão, uma mulher lhe disse que ao realizar seu maior sonho, morreria.   

Somente em 1967, ou seja, quatro anos depois da eleição, Rosa resolveu assumir a cadeira de nº02, que fora do poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo (1831-1852). No seu discurso de posse declarou: “…a gente morre é para provar que viveu”. Três dias depois, encantou-se, afinal “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”.  Neste mesmo ano foi indicado para o Nobel de Literatura.

Em 1936, estreia com a obra “Magma” (poesia), ganhadora do Prêmio da ACL, embora não tenha sido bem recebida pelo público. A recepção ficou para “Grande Sertão: Veredas”, obra marcada pelo exímio trabalho com a linguagem (articulada, cheia de significações, figuras de linguagem como aliterações, elipses, onomatopeias, vocabulário que mescla arcaísmos e neologismos), imersa na oralidade e na musicalidade do homem do sertão, originalidade de estilo, ausência de capítulos (fluxo contínuo) em seiscentas páginas conferindo-lhe um caráter único e inovador. 

Trata-se de um monólogo-diálogo de Riobaldo, um velho fazendeiro do estado de Minas Gerais, sobre sua vida de jagunço a um interlocutor não identificado, apenas sugerido. A narração é intercalada por questões existenciais e acontecimentos do sertão. São tantos os episódios contados que em determinado momento o narrador não consegue distinguir o que viveu do que imaginou ter vivido.

Eis a beleza do sertão – “estes seus vazios”, pois “Viver é muito perigoso”. Perigoso mesmo é não ler Guimarães Rosa. 

Sobre a Autora:

Luciana Bessa Silva

Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler

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