Há 86 anos nascia um dos maiores nomes da poesia brasileira. A professora, filósofa, romancista, contista e poetisa Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 13 de dezembro de 1935 e agregou ao movimento Modernista, com sua forma encantadora de “dizer as coisas de maneira bonita”.
Embora a arte poética tenha surgido na sua vida aos 14 anos, em decorrência da morte do seu pai, em 1950, Adélia Prado só publicou seu primeiro livro – Bagagem (1976) – aos 40 anos, uma obra apreciada e apadrinhada pelo poeta (também mineiro) Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), uma referência na escrita de Adélia – ao lado de Clarice Lispector (1920 – 1977) e Guimarães Rosa (1908 – 1967), que ela considerava a “Santíssima Trindade” da poesia brasileira. Drummond, que foi responsável por enviar Bagagem para o editor que publicou a obra, foi homenageado no primeiro poema do livro, chamado Com Licença Poética, uma referência clara ao Poema De Sete Faces do autor de Alguma Poesia (1930):
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Bagagem (1976)
Sempre a maior crítica do próprio trabalho, a autora de O Pelicano (1987), O Homem Da Mão Seca (1994) e Filandras (2001), desconsidera tudo que escrevera até a publicação de Bagagem, segundo ela, nenhum tem valor literário. Foi justamente a validação de Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), que lhe permitiu aceitar-se como poeta.
Adélia Prado foi “carimbada” como “Poeta do Cotidiano” pela simplicidade dos temas abordados nos seus versos, pelo cotidiano da “vida vidinha” – “sou mulher, mãe de filhos, Adélia. Faço comida e como […] Quando dói, grito ai, quando é bom, fico bruta a, sensibilidade sem governo” (PRADO, 1976). Em 2014, no programa Roda Viva, quando questionada acerca do “título” recebido, Adélia disse: “Não tem nada especial, […] é o próprio susto e o próprio espanto que eu tenho com a vida. […] Experiência diária e cotidiana de viver e acudir às necessidades da vida. As paixões nossas. As boas e as perversas”.
Vencedora do Prêmio Jabuti em 1978 com a obra O Coração Disparado (1977) e adorada pelos leitores, se considera um instrumento para que a poesia aconteça. Sua escrita também é caracterizada pela presença da religiosidade e pela prosa poética – “quando eu escrevo prosa que não tem poesia, eu não publico, não é literatura”. Adélia Prado encanta pela sua simplicidade, inteligência, sabedoria e pela capacidade de aproximar o público dos seus poemas. Uma mulher para ser lida cotidianamente.
Fontes:
RODA VIVA. Adélia Prado – 24/03/2014. YouTube, 19 de mar. 2015. Disponível em: <https://youtu.be/6E2afhdOogI>. Acesso em: 12 de dez. 2021.
Sobre a autora:
Shirley Pinheiro
Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.