Madalena Caramuru: a primeira mulher alfabetizada no Brasil

Muitos foram os direitos conquistados pelas mulheres ao longo dos séculos. Antigamente, elas ingressaram na escola já adultas e com formação voltada para os cuidados com o lar e a família. Segundo as leis portuguesas, o sexo feminino fazia parte da categoria voltada para criança e doentes mentais, além de serem consideradas sujeitos sem capacidade intelectual para aprender. Essa ideia ainda persistiu no Brasil colônia, onde eram declamados versinhos como: “mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada” ou “ a mulher honrada deve ser sempre calada” ou “ a mulher que sabe latim não tem marido, nem bom fim” (FERNANDES, 2019). Muitos desses versos eram encontrados na literatura de escritores portugueses do gênero masculino.

A primeira reivindicação pela instrução feminina no Brasil partiu do português Afonso Rodrigues, que ao casar-se com uma índia brasileira, Madalena Caramuru, Moema Paraguaçu, tribo dos Tupinambás, ensinou a esposa a ler e escrever com a permissão do padre Manoel de Nóbrega. Ela foi a primeira mulher a ser alfabetizada no país, motivo pelo qual entrou para o RankBrasil no ano de 2013. 

Diametralmente oposta da cultura do homem branco, na indígena, a mulher exercia o papel de companheira e não deveria haver razão para as diferenças de oportunidades educacionais. Ver-se que os indígenas estranhavam a diferença de oportunidades educacionais entre homens e mulheres, visto que estas eram consideradas companheiras. Depreende-se, então, que a educação indígena via que tanto a mulher como o homem tinham as mesmas oportunidades, inclusive educacionais:

“Condenar

ao analfabetismo e à ignorância o

sexo feminino parecia, para o povo

indígena, uma ideia absurda”

(RIBEIRO, 2004, p. 1)

Ver-se no trecho acima, uma afirmação que a professora Arilda Inês Miranda Ribeiro, da Universidade Estadual Paulista fez em relação a valorização da alfabetização para todos dentro da cultura indígena.

Em 26 março de 1561, a recordista Madalena usou seus conhecimentos para redigir uma carta de próprio punho para o padre Manoel da Nóbrega, sacerdote português e chefe da primeira missão jesuítica à América. Nesta missiva, Madalena solicitava ao padre que as crianças escravas fossem tratadas com dignidade chegando a oferecer ajuda para que isso acontecesse. Ela denunciava os traficantes de escravos por desejarem a morte rápida dos meninos negros e lamentava que a Bahia tivesse deixado de ser “berço de uma geração tão pura”. Por esse ato, a índia foi considerada também como pioneira na luta pelos direitos humanos no Brasil.

Apesar de não ter sido atendida, Madalena ficou marcada na história da escravidão no Brasil, sendo devidamente respeitada como figura feminina de força, determinação, desejo de vencer o analfabetismo e de luta pela liberdade de escravos, principalmente das crianças, por sua ousadia, bom aproveitamento da alfabetização e seus conhecimentos. Madalena também foi homenageada pelos Correios, no ano de 2001, quando a empresa, lançou um selo que simbolizava a luta pela alfabetização da mulher no Brasil. No centro da peça, Madalena aparece com características indígenas, segurando uma pena de escrivão, que era um instrumento utilizado para a escrita na época em que a índia viveu.

Madalena representa, pois, a mulher que usou da palavra escrita para lutar contra a opressão e em favor da igualdade de gênero. Por esta razão sua história merece ser contada e suas ações merecem ser difundidas para que sirvam de incentivo para outras mulheres. Que a educação diversificada e plural siga libertando não só as mulheres, mas também a todos que precisam do conhecimento para aperfeiçoar-se e fazer do mundo um lugar melhor para se viver.

Fontes:

CLUBE DAS PITAYAS. Mulher do mês – Madalena Caramuru. Site do Clube das Pitayas, 19 fev. 2021. Disponível em: https://clubedaspitayas.com/2021/02/19/mulher-do-mes-madalena-caramuru/. Acesso em: 1 dez. 2021.

FENAE AGORA. Uma carta como marco da alfabetização feminina. Fenae Agora, set./ago 2014. Disponível em: https://fenae.org.br/portal/data/files/FF8080811706ED20011744D39DDD3B0F/Madalena%20Caramuru.pdf. Acesso em: 1 dez. 2021. 

FERNANDES, Fernanda. A história da educação feminina. Rio de Janeiro-RJ: MultiRio – a mídia educativa da cidade, 7 mar. 2019. Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/14812-a-hist%C3%B3ria-da-educa%C3%A7%C3%A3o-feminina. Acesso em: 1 dez. 2021.

PIRES, Fátima. Primeira mulher alfabetizada no Brasil. Site RankBrasil Recordes Brasileiros, 15 fev. 2013. Disponível em: https://www.rankbrasil.com.br/Recordes/Materias/0W1e/Primeira_Mulher_Alfabetizada_No_Brasil. Acesso em: 1 dez. 2021.

Sobre a autora:

Letícia Isabelle Alexandre Filgueira

Graduanda em Letras pela Universidade Estadual do Ceará/ Faculdade de Educação Ciências e Letras – UECE/ FECLI

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