Maria Clara Machado e arte de escrever para crianças

Conhecida nos meios teatral e literário, Maria Clara Machado nasceu em 03 de abril de 1921, em Belo Horizonte, na capital mineira, mas logo mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em sua infância, foi testemunha das mudanças no cenário artístico e intelectual dos anos 20, com a consolidação do movimento modernista no Brasil. No âmbito político, ainda criança, vivenciou a Era Vargas e o primeiro governo ditatorial brasileiro.

Filha do escritor Aníbal Machado, Maria Clara Machado cresceu rodeada por escritores, intelectuais e artistas, amigos de seu pai, que frequentavam sua casa. Dentre eles, Pablo Neruda, Murilo Mendes, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, João Cabral de Mello Neto, Adalgisa Nery, Di Cavalcanti, Portinari. Em meio a tanta influência cultural, não era de se estranhar que a menina enveredasse pelo mesmo caminho.

Foi ao teatro que Maria Clara Machado dedicou sua vida. Em 1938, quando entrou para o Movimento Bandeirante, experienciou o exercício da liberdade e do companheirismo em uma época de repressão, sobretudo às mulheres, vivência de grande influência em sua formação, quando despertou para a arte da atuação. Por um ano, estudou Teatro, em Paris. Seu retorno ao Brasil foi munido de convites para lecionar em grandes escolas de teatro, atividade que intercalou com a dedicação à própria escola, o Tablado, que fundou com o apoio do pai e de alguns amigos. Machado dizia que a família era a base para a realização de seus sonhos, fez então do Tablado, uma grande família.

Maria Clara Machado foi atriz, professora, dramaturga e diretora. Ficou conhecida por suas peças dedicadas ao público infantil, ao que ela dizia: “Criança é um público maravilhoso, mas a gente deve tomar muito cuidado porque ela recebe tudo, não sabendo ainda discernir: se é dado coisa ruim ela capta da mesma forma que as coisas boas. Por isso, eu preciso fazer as coisas o mais bem feito possível, realmente o melhor, ainda mais porque as crianças não têm senso crítico. (…) é como radiografia, bate e fica”. Suas obras atingem o intuito de aprendizagem e moral proposto pela literatura voltada para crianças, como em Pluft, o fantasminha (1955), a história de um fantasma que tem medo de gente, e que consegue superá-lo ao fazer amizade com uma menina e coover toda sua família para ajudar a salvá-la de um pirata malvado. Uma obra que, nas palavras de Carlos Drummond de Andrade, “cada vez que se apresenta desperta em meninos e meninas uma centelha de poesia que eles não suspeitavam, e reaviva em homens e mulheres uma pueril e deliciosa conformidade com os poderes da imaginação”.

Maria Clara Machado morreu em aos oitenta anos, mas permanece viva em suas histórias — Boi e o Burro no Caminho de Belém (1953); O Rapto das Cebolinhas (1954); A Bruxinha Que Era Boa (1958) — encantaram gerações e gerações de crianças em todo o território nacional.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *