No coração nordestino, Elba Ramalho é tradição

Tô com saudade de tu, meu desejo

Tô com saudade do beijo e do mel

Do teu olhar carinhoso, do teu abraço gostoso

De passear no teu céu

No dicionário, a tradição é definida como um “ato ou efeito de transmitir ou entregar; transferência”; uma “herança cultural, legado de crenças, técnicas etc. de uma geração para outra”. No coração nordestino, a tradição é euforia, é paixão pela cultura, pelos costumes, é o respeito pela própria história e pela memória. E se tem uma coisa que o nordestino tem, é orgulho de sua tradição. Orgulho esse que se manifesta em diversos espaços: na poesia — “Quanto mais sou nordestino, mais orgulho tenho de ser” (Bráulio Bessa); na literatura — “Fiz uma promessa que, se um dia contasse a minha história, gritaria logo nas primeiras páginas sobre o viado orgulhoso e nordestino que sou. Reparação histórica”(Pedro Rhuas); na música — “Ei, nortista, agarra essa causa que trouxeste/ Nordestino, agarra a cultura que te veste […] Minhas irmãs, meus irmãos/ Se assumam como realmente são/ Não deixem que suas matrizes/ Que suas raízes morram por falta de irrigação” (RAPadura Xique-Chico), etc.

Pessoalmente, uma das (muitas) origens dessa euforia completa hoje 71 anos de idade. Nascida em 17 de agosto de 1951, em Conceição, na Paraíba, Elba Ramalho é o que Luiz Gonzaga chamaria de “mulher macho, sim sinhô”. Dona de uma voz poderosa, Elba exala nordestinidade, seja em seu sotaque carregado ou em músicas cujas letras carregam em si a potência da poesia da região.

Elba estreou na música em 1966, quando começou, inicialmente como guitarrista e depois como baterista, no grupo feminino As Brasas, uma banda de rock “no embalo da Jovem Guarda”. A vida artística da cantora sempre esteve diretamente ligada à poesia. No mesmo ano Elba participa do Coral Falado Manuel Bandeira, que “fazia encenações híbridas da poética nacional e internacional, misturando música, dança e teatro”. Anos mais tarde atuou em Morte e vida severina, de João Cabral de Melo, peça apresentada em Campina Grande, João Pessoa, Recife e Rio de Janeiro.

O pai de Elba Ramalho até tentou empatar a filha de trilhar o seu caminho pela arte, mas mandá-la para João Pessoa não foi suficiente para impedir que ela desembestasse em sua carreira musical. Em 1972, na terceira edição do Festival Campinense de Música Popular Brasileira da FACMA, resolveu se inscrever e interpretar a música Ou coisa parecida, escrita em parceria com Zezé Duarte, a canção foi vencedora, ainda que muitos tenham dito ser um plágio da música Na hora do Almoço, do cantor cearense Belchior”.

Em sua carreira, Elba Ramalho consagrou diversas parcerias com grandes nomes da música popular brasileira — Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, dentre outros. Dessas parcerias nasceram álbuns magníficos que eternizaram esses “Grandes Encontros”.

Vencedora de dois Grammys Latinos, até hoje leva para todo o Brasil a música, a poesia, a alegria, a versatilidade e a força da mulher paraibana. No coração nordestino, Elba Ramalho é tradição.

REFERÊNCIAS:

RHUAS, Pedro. Enquanto Eu Não Te Encontro. 1. ed. São Paulo: Seguinte, 2021.

Sobre a autora:

Shirley Pinheiro

Graduanda em Letras pela Universidade Regional do Cariri.

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